A MATEMÁTICA DA FELICIDADE (II)

“As pessoas morrem e não alcançam a felicidade”

Eurípedes olhava para o infinito, pensando na frase de Albert Camus, numa expressão vazia, enquanto eu tentava lhe dizer:

- Absurdo! Você quer dizer que todas as pessoas têm a mesma quantidade de momentos de tristeza e de alegria?

- Não disse isso. Evidente que algumas pessoas têm mais momentos de alegria ou tristeza do que outros, porém, a qualidade desses momentos tende a ser proporcional. Alguém pode ter muitos momentos de tristeza, mas um só momento de alegria pode compensar toda a tristeza acumulada durante a vida ou o contrário.

- Isso é um sofisma, disse-lhe eu.

- Na verdade – esclareceu Eurípedes – é difícil que uma pessoa acumule só tristeza durante a vida ou só alegria. Com o passar do tempo as pessoas se acostumam com determinados eventos, até que eles percam o significado de tristeza ou alegria... e esse é o verdadeiro objetivo da vida. Desprendimento e equilíbrio.

Fiquei quieto. Eurípedes costumava ser incansável em discussões. Jamais se rendia e dificilmente mudava de opinião.

Na verdade, uma equação da felicidade não é algo novo.

Em 2014 pesquisadores da Universidade College London desenvolveram uma fórmula para prever matematicamente o nível de felicidade de uma pessoa – e as variáveis desse cálculo são os fatores determinantes para que alguém seja feliz.

O principal avanço dela foi mostrar que existe uma correlação entre felicidade e expectativa.

Surgiu assim a primeira Equação da Felicidade que mede o impacto cumulativo das expectativas recentes de uma pessoa e seus erros de previsão com relação a essas expectativas.

De acordo com esse cálculo, estar feliz é ver que a realidade está à altura do que esperávamos e melhor do que estaria se tivéssemos escolhido outro caminho.

Depois de tudo isso, os pesquisadores perceberam que as pessoas não vivem em uma bolha. Assim, a felicidade delas é afetada por quem está por perto. Para levar em conta o fator social do bem estar, eles refizeram a fórmula.

Perceberam que temos aversão à desigualdade. É mais difícil ser feliz quando as pessoas estão em uma situação diferente da nossa – seja melhor ou seja pior. Quando estamos por cima, o fator que atrapalha é a culpa. Já quando vemos o outro ganhar mais, surge a inveja.

Desse modo surgiu uma nova fórmula.

Além da gestão de expectativas, então, nossa felicidade é impactada pela desigualdade vantajosa ou prejudicial a nós. A fórmula atualizada conseguia prever com muito mais precisão se uma pessoa sairia feliz ou triste de uma experiência de vida.

De acordo com essa lógica, uma pessoa generosa e uma invejosa seriam o par perfeito, uma proporcionando equilíbrio para a outra.

Aí a teoria esbarra com a complexidade quase infinita das emoções humanas.

De certo modo, a proposta de Eurípedes pretende uma formulação matemática para uma proposição filosófica, de que não existe felicidade.

* * *

Porém, a minha matemática da felicidade era outra. O São Paulo havia vencido o primeiro jogo contra o Ríver, por 2 a 0 num jogo emocionante e agora poderia perder de um a zero ou, se fizesse um, o Ríver teria que fazer quatro para reverter a situação.

A verdadeira matemática da felicidade. Estávamos praticamente na final da Libertadores de 2005!

O Estádio Monumental de Nuñes possui uma arquitetura muito parecida com o Morumbi, e todo o cenário e circunstâncias que envolviam a partida me deixavam cheio de expectativa.

Eu dei um sorriso confiante.

Eurípedes sorriu de volta e, como se tivesse dentro dos meus pensamentos, advertiu-me:

- Cuidado. O excesso de expectativa pode lhe frustrar, tornando um acontecimento muito mais triste.

(continua)

Referência: https://super.abril.com.br/comportamento/cientistas-descobrem-a-formula-matematica-da-felicidade/