Os Velhinhos: Dona Estella

Esse é o meu segundo conto (de 5) sobre moradores de um mesmo asilo e suas histórias pessoais.

A mensagem para sua filha era uma das primeiras coisas que Estella fazia ao acordar. Mensagens digitais era uma das mais recentes descobertas de uma mulher que sempre quis estar par a par com as novidades e inovações que cercavam o seu tempo. Ela é uma daquelas pessoas que parecem ter conhecimento de tudo e todos, parece entender a dor e que ela é remediada um dia, e Estella parece indestrutível ao firmar a ideia de que vale a pena esperar por esses dias melhores.

Aos seus 69 anos, a senhora De Campos parecia cada vez melhor e só reafirmando o clichê de que é feito vinho que só melhora. Estella mantém sua rotina entre cuidar do seu físico através de exercícios e tarefas dentro do asilo, além de manter sua mente sempre aguçada através de leituras e muitas conversas com seus companheiros de lar. Chamar suas amigas para os exercícios na quadra próxima ao asilo as vezes a lembrava de algo muito triste em sua vida.

Quando chegou no Rio de Janeiro, lá pelo ano de 73, ela fora abordada por um homem que queria transformar a jovem vinda de Recife em uma grande atriz. Não demorou muito para descobrir que o plano real era de montar uma equipe de garotas que dormiam com clientes desse mesmo homem, só para ele fechar negócios que apenas o beneficiavam. Estella, sobreviveu a um incêndio na casa onde ela e suas amigas ficavam, viu tantas queimadas e antes de morrerem gritarem por ajuda. Aquilo ainda rendia orações para as garotas, antes e depois de dormir.

Criou sua filha com todo primor, após o ocorrido ela encontrou alguém que a amava e nada faltou para eles. Apesar de considerar seu marido um grande marido e pai, ela admitia que os anos casados antes dele falecer, foi como usar uma máscara de esposa conservadora. Que finalmente ele pode ser a mulher forte e independente que sempre teve em mente. Forte o suficiente para não se amedrontar ao falar sobre sexualidade e sexo, por não tratar as coisas como tabu mas enfrentá-las numa conversa em que todos ali ganhem.

Ir morar no asilo Caminho do Sol não foi por motivo de abandono de seus familiares mas por decisão da própria mulher. Encontrar espaço entre pessoas com bastante experiências e não afobadas pelo tempo de tanto a sua frente, parecia um lugar ideal para ela. Se mantinha feliz e sempre disposta a manter-se assim, seja no seu quarto amarelo de numero 6 que ela insistia para pintar de rosa, ou fosse nos outros lugares. Ela não se permitia deixar quebrar por mágoas passadas ou pessoas que não importavam no final das costas.

TEXTO E REVISÃO: Raphael Maitam

Seja bem-vindo para ler esse conto e mais outros no meu livro disponível no wattpad: https://www.wattpad.com/story/118616926-versos-por-aí-segundo-volume