É impossível falar com os mortos

Na fila do banco, no supermercado, nas ruas, nas universidades, em todo lugar, lá estão elas, envolvidas em seus medos, culpas, desejos e preocupações. A mulher quer comprar um shampoo, mas entre um pensamento e outro, não consegue ler o rótulo, e acaba levando o mais famoso.

Que problema há se eles são testados em pequenos e indefesos animais, ou se possuem em sua composição produtos químicos que prejudicam a pele? a propaganda na tv mostra o produto sendo usado por belíssimas modelos que balançam suas madeixas reluzentes como ouro, isso é o que importa. As amigas invejarão seu cabelo e o penteado que usará no casamento de sua sobrinha, logo mais.

Que belas palavras disse o santo religioso que conduziu a cerimônia, como se expressa bem aquele pregador. Mas, o que ele disse mesmo? ah!, disse que o casamento é para toda a vida, que a mulher deve ser submissa, e o homem, claro, uma muralha, deverá protegê-la por toda a vida, e, ambos, deverão se amar para sempre, pois o que Deus uniu o homem não separa.

A mulher é belíssima, o marido a exibe aos amigos como sua proprie… quer dizer, esposa. Já a moça confiante no potencial econômico do recente parceiro, sorri radiante. A conveniência os uniu, não Deus. Um olhar sensível à situação, veria que naquele lar a felicidade não faria morada. Mas o que dizer? mortos não ouvem.

Pessoas mortas, não conseguem perceber a beleza do sol que diariamente fornece luz e calor, também não se dá conta de que pássaros cantam em sua janela; não percebe aquela árvore que, do lado de fora de seu portão, se enche de flores na primavera.

Pessoas mortas pensam, ah! e como pensam, o tempo todo, em tudo, um frenesi de pensamentos, na maioria, inúteis. Jamais param para refletir sobre suas ações, escolhas e atitudes, não se responsabilizam por absolutamente nada, e, a culpa de seus problemas é sempre dos outros. Esperam mudar o mundo votando no partido da direita ou da esquerda, mas não percebem que a principal mudança começa dentro de si.

Tropeçamos diariamente em pessoas mortas, sempre estão por perto, porém com elas é impossível conversar, pois, falam de si o tempo todo, e, se o assunto não girar em torno delas ou sobre seus feitos e ganhos, se entediam.

Distrações e superficialidades são fios condutores que guiam pessoas mortas, pois desconectadas de sua essência, perambulam nas sendas escuras de uma pseudo existência.