O valor da coisa

O valor da coisa

O vento frio soprava em direção contrária ao meu destino, então parei, precisava respirar e beber água, quando eu desci da bicicleta, notei uma pequena casa no final de uma das estradas sem saída que se ramificavam da principal.

-Ali deve ter alguma água – falei com meus fantasmas , porque , além do sopro do vendo , eu e minha bicicleta não tinha mais ninguém.

Bati na porta de madeira dura, dessas antigas que se vê dentro pela separação das tábuas, não ouvi barulho algum, estava com medo de incomodar, porém bati novamente , então escutei uma arrastar de chinelos, devagar , arranhado e a porta se abriu, uma senhora, de cabelos soltos, face sofrida, lábios castigados pelo hábito do fumo, deveria ter mais de setenta anos, me disse com rispidez:

-Por que bate na minha porta ?

-Estou com sede , pesei que pudesse me dar um pouco de água .

-Posso não, não tenho água que gente bebe , não hoje, só tenho água pra animal, um pouco que guardo para minha criação de porcos, é ruim.

-Você bebe essa água? Então me dá um pouco da que você bebe ?

Ela deu uma gargalhada e mostrou o preto dos dentes, maioria quebrados ou tortos.

-Bebo a água dos animais, pra mim não faz diferença, já estou velha .

Refleti se aquela era uma forma de receber um visitante, talvez a velha não estivesse acostumada com estranhos, foi fechando a porta, mas antes eu disse:

-Estou com muita sede.

-Vai, você que sabe! – ela abriu a porta da casa, pude ver um banco no centro da sala, mas nenhum outro móvel, na parede um quadro de fundo vermelho vivo e tinha uma moeda bem no centro.

Saiu e foi até outro cômodo, em dois minutos voltou com a água em um copo sujo, senti o fedor repugnante , veio a minha boca gosto de suco gástrico e senti que ia vomitar, a velha fez ar de deboche.

-Você não aguenta essa água .

Concordei com a cabeça.

A velha suspirou, olhou nos meus olhos e tomou o copo da minha mão e disse:

-É o valor da coisa, existe o valor que damos a alguma coisa, - ela apontou o quadro a moeda – essa é uma moeda de um centavo, valor que o governo deu, em certa época, hoje ela não vale mais um centavo, porém essa moeda é tão rara que colecionadores pagariam dez mil, o verdadeiro valor é o tempo quem atribui, ou algum louco, essa moeda foi de meu pai, ele me fez prometer que daria a um filho, mas não tive filhos - ela tomou um gole daquela agua fedorenta e continuo - nada de povoar esse mundo miserável, então achei justo que a moeda ficasse ai.

Chequei perto da moeda.

-Pense então no valor da água em lugares como esse? - disse a velha levando o copo sujo em minha direção.

Pedi desculpas e fui embora, com sede , desci todo o desfiladeiro desejando nada mais na vida que um copo de água fresca .

JJ DE SOUZA
Enviado por JJ DE SOUZA em 09/12/2017
Reeditado em 09/12/2017
Código do texto: T6194751
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