Rock na Praça

As manhãs de domingo têm esse encanto especial para a gente deste lado da cidade. Não raro venho às 6h assistir a montagem de toda essa estrutura que se dá no meio de uma celeuma festiva. Há uma gritaria divertida e um impressionante tinir de ferros na armação das barracas. A avenida que inda agorinha dormia se desperta para essa alegria domingueira. O comércio local também madruga e os bares já recebem os primeiros fregueses com o tira-gosto pronto. Saio do meu ramerrão diário, para viver essa prazerosa rotina dominical. Costumo pular da cama com os primeiros pardais, faço um café encorpado e com o pretexto de vir à padaria me dou o prazer desse momento. O desjejum com a patroa e a indispensável missa das oito na matriz de São João Bosco. Depois é curtir a feira.

Pois é! Não está sendo diferente. Ou melhor, está. Tem uma turma ali montando um equipamento de som num regula que regula, numa mexida com instrumentos e fios – alô, teste, ei – e pelo jeito sai coisa boa. Ajeito-me debaixo da lona, numa das mesas espalhadas pela praça, peço uma latinha só pra não empatar à toa os acessórios dobráveis do feirante. A manhã é fresca e as pessoas circulam alegres. Há crianças nos brinquedos infláveis, um hippie torcendo arame, alguns bêbados mangueando, um deles pede um trocado pra comprar um picolé, chamo o garoto do carrinho, digo ao sujeito pra escolher o sabor, dispensa, agradece e sai resmungando. Gente estranha!

Começa o show. O rock, munido do insuperável poder da música de nos transportar no tempo, me leva pros anos da mocidade num estalo, evocando as mais agradáveis lembranças. Pessoas se aproximam, algumas tomam assento. Um bêbado ergue-se do banco de cimento, ensaia um passo desajeitado tangendo cordas invisíveis à altura da barriga, desequilibra-se, sopesa que é melhor continuar sentado. Contagiado, ergue os braços e engrola um coro gutural. A música termina. Ele dá um grito bate palmas. O vocalista apresenta a banda - Somos a banda Opala SS – e fala do projeto Rock na Praça. O som recomeça.

Peço outra latinha. O repertório me agrada. Fico pensando no privilégio de estar aqui nesta hora e lugar. Na calçada do outro lado, saindo de trás do carrinho de espetinhos, aparece o vulto do amigo Beto. Fica apreciando de lá. Aceno-lhe convidando-o a sentar-se, atravessa a rua, senta-se, pergunta, admirado, de onde são esses moços. Aponto cada componente dizendo-lhe os nomes: são daqui. Sacode positivamente a cabeça: caramba!

Termina a música, o bêbado pede um Luan Santana. Eles levam Another Brick in The Wall. Boa!

Carlinhos Colé
Enviado por Carlinhos Colé em 18/12/2017
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