Minha mente é assim, amiguinho

Nervosismo: acho engraçado e ate irônico em ver as pessoas lidarem com isso. Tem gente que come chocolate e fica gordo e enjoado, tem gente que... bate nos outros, tem gente que fuma pedra, sei lá, caralho. Por que estou pensando nisso? Poxa, lembrei, eu tenho prova hoje e isso é a ultima coisa que eu quero pensar “Quase chegando na faculdade”. Fones no ouvido, Al Stewart canta Murmansk run pra mim “Que música”. Prova de ciências humanas, olha, que legal, sou péssimo com teorias. Nunca sei o que aqueles imbecís querem dizer. Alguns clamam pela vida, outros nos chamam de meros simulacros, outros dizem que “Deus está morto”. Risada alta isso me gera, na van, a pessoa ao meu lado me olha, acha que eu sou maluco. Da van ate chegar na sala é um cigarro, termino ele na porta do prédio. Muitas pessoas, muita gente bonita, muita gente que pensa que sabe o que sabe mas não sabe que na verdade não sabe de nada que acha que sabe, me perdi, porra. Encontro uma amiga, dou um beijo na testa. Ela vai se safar do cara que fala que somos simulacros. “Há campos, Neil. Campos sem fim onde nós seres humanos não nascemos mais, somos cultivados”. Agora o filme todo vai rebimbar na minha cabeça durante a prova. Isso me assusta, inteligência artificial é uma coisa burra, criada por um ser burro, para satisfazer seus ideais burros. Tá, tem seu lado bom, mas eu sou escroto de mais pra ver o lado bom de certas coisas. Credo, estou nervoso, me imagino batendo no cara que está sentado na cadeira a minha frente, logo paro com isso. Não devo bater nas pessoas, acho melhor comer chocolate e ficar gordo e enjoado. A prova chega, hoje eu vou me foder, não estudei pra esta bosta. Bem, tenho o resto do ano inteiro pra me arrepender disso, foda-se. A, C, V, V, F e falo do fato de as redes sócias estarem criando uma geração de mongolóides, opa, será? Não quero mais pensar nisso não. Bar com o cara que eu ainda lhe devo seus chocolates que ele ganhou e guardou comigo, amanha eu devolvo. Bebemos duas doses de uísque barato. Compro uma paranguinha com o quebrada. Vai me render algumas bongadas mágicas. A outra prova eu tiro de letra, eu acho. Calma, amigo, não vá com tanta pressa assim, pague pra ver. Falo sobre economia depois da prova, com essa mocinha que a gente gosta de chamar de Goiabinha, acho que tem algo a ver com ela gostar daqueles bolinhos de goiaba extremamente doces, enfim. Falamos do Lula, e algo sobre economia familiar e ela comenta que iniciou um negócio com o namorado, bacana. Daí ela vai embora, todo mundo agora indo embora, eu incluído. Ainda meio alto com o uísque “22:10”. –Vou ficar contigo te enchendo ate as 22:30”. A amiga do beijo na testa. Na porta da van dela, falamos da prova, falo que tirei de letra na segunda, opa, segura aí, brother. Ela me oferece chocolate, uma barra muito grande, uau. Fala que foi o tio que não gosta dela que deu. Não aceito, primeiro porque... já falei disso antes. Segundo, ela falou que foi o tio que não gosta dela que deu, vai que... “Coisas ruins acontecem com pessoas boas”. Credo, não estou normal hoje. Na van, voltando agora pra casa. Converso com o rapaz que senta atrás de mim e assiste a mesma série que eu, só assisto essa. “B B T ficou sem graça depois que o Sheldon comeu a outra lá”. Um pouco de jogo das bolinhas coloridas no celular, perco todas as partidas. 23:59, a chave está girando na porta, olho pro chão, o sapo no chão olha pra mim –Oi, sapo. –Sorrio pra ele e entro em casa. Ouço meu pai fechar a porta do quarto dele, nunca o incomodo. Quarto, incenso “Será que tomo banho hoje”. Logo o bong está pronto. Rogério skylab fala sobre sua moto serra em sua melhor música. O bong faz fumaça e a música me embala, agora é C T E- Right before my eyes “Que música”. Depois vem a rádio que toca jazz. A chuva vem cantando bem devagarzinho os pingos no telhado vermelho e velho. “Banho.” Não, está chovendo, odeio tomar banho quando está chovendo, o barulho da chuva do chuveiro e da chuva do céu faz meu cérebro se confundir. Deito e abro o computador, penso em tudo o que foi esse dia que agora me fez escrever tudo isso que minha mente projetou pra reagir a uma realidade torpe e agora, você, querendo ou não, acabou de acabar de ler. Minha mente é assim, amiguinho. Bem vindo a... Qual a sua idéia?