Ele é brasileiro, ela é taiwanesa

Teve aquela história que aconteceu nessa mesma época do ano, não me lembro de qual ano exato foi, mas talvez tenha sido há uns 3 ou 4 anos atrás. Aquela mulher magrinha estava com suas amigas em um evento que acontece na primeira, ou na última sexta-feira do mês no bairro oriental. Eles fechavam as ruas em linha reta, e essas eram tomadas de bares. Dentro dessa delimitação era permitido praticamente tudo. Você via pessoas fantasiadas, ou poderia pensar que eram pessoas usando roupas extravagantes. Havia mulheres vestidas de meninas, e meninas vestidas de monstros. Haviam caras como cowboys modernos e outros como ogros das cavernas. Uma festa eclética, cada bar com sua própria música e comida. Música oriental, música latina, rock americano, rock europeu. Os dois amigos, um brasileiro e outro russo compraram cada um sua cerveja que vinha em uma lata grande de uma marca diferente. O gosto amargo e forte dava choque na cabeça e na garganta. Eles encontraram outras pessoas amigas, em sua maioria mulheres do japão.

Estavam lá para aprender a língua inglesa e conhecer a ilha famosa pelo surf e suas ondas gigantes. Fizeram passeios legais, conheceram Pearl Harbor onde há um monumento em alto mar acima de um navio que afundou na segunda grande guerra. Ali nas proeminentes paredes brancas estavam escritos os nomes das pessoas que se sacrificaram pelo EUA. O brasileiro tinha uma dificuldade de entender sobre guerras, já o russo achava tudo muito normal, visto que seu país acontece coisas loucas o tempo inteiro, e eles participaram da segunda guerra como aliados e como inimigos.

Os dias por lá eram sempre ensolarados, as praias lotadas de turistas, porém bem diferentes do litoral brasileiro. Havia muitas pedras e muitos corais, os surfistas sabiam o lugar exato onde poderiam entrar para surfar, e iam longe mar adentro, onde as ondas vinham em sequência e eles podiam fazer suas manobras. Todas as vezes que ele viu essa cena, o mar se encontrava lotado de surfistas e banhistas. Waikiki era um enxame de pessoas procurando um lugar para curtir, ou acabavam curtindo por obrigatoriedade, já que não tinha como fugir daquela bagunça. Não haviam barraquinhas nas praias vendendo isca de peixe e cerveja gelada como no Brasil, contudo no que seria o calçadão, bares e mais bares, alguns restaurantes e lojas de marcas chiques disputavam os turistas com as areias brancas daquele local. Mesmo em setembro quando o verão ia dando lugar para a próxima estação, os ambientes estavam sempre cheios e concorridos por gente que queria saciar a curiosidade da culinária hawaiana ou polinésia, e fazer compras no shopping. Honolulu era uma cidade como outra grande cidade de um milhão de habitantes. Trânsito intenso, loucos gritando bêbados pelas ruas, à noite ou de dia, buzinas, estudantes apressados e homens de terno escuro num calor de 37 graus.

E os dois, o brasileiro e o russo, tinham a mesma curiosidade. Por que haviam tantos orientais na ilha. Ficaram sabendo que o Hawaii apesar de parecer misterioso e selvagem, e sendo o lugar mais afastado de qualquer continente, recebia turismo de diversas partes, mas especialmente do Japão, China e Taiwan. Pode parecer loucura, mas o Hawaii é mais barato que o Japão para passear, segundo disseram. E Taiwan era tipo a “China que deu certo”. Eram capitalistas e tinham seus olhos voltados para os costumes do mundo ocidental. Era de lá que a mulher magrinha do começo da história vinha. Estava vestida com uma saia pouco acima do joelho, e uma camiseta que deixava os seios marcados. Os cabelos castanhos e cheios caiam sobre os ombros e tinha uma feição bonita para uma garota oriental, já que o nosso amigo brazuca não tinha lá muita gosto para os de “olhinhos puxados”.

Mas a fama é algo bacana em certo ponto, brasileiros são considerado um povo alegre, festeiro, que sabem dançar e jogar futebol. Nesse último caso, não lhe agradava em nada por que ele não sabia chutar uma bola direito. Porém gostava muito de balançar o esqueleto, e como os orientais não tem o molejo brasileiro nem o jogo de cintura, qualquer balançada da cintura fazia a dança parecer bem mais legal do que realmente era. Foi assim, junto daquela turma diferente, dançando músicas latinas que encontraram em um dos bares curiosos daquele bairro “chino”, se divertindo jogando sinuca que os dois se conheceram. Ela ficou entusiasmada com ele, perguntou para a outra tawainesa com quem ele dividia a turma do curso de inglês, quem ele era. Ele sacou a atenção dela e se fez de pavão, mostrando passos estranhos e até engraçados, e que no entanto deixavam ela inquieta.

Ele a pegou pela mão e falou, “vem, vamos dançar”, e ela com um sorriso enorme na cara, levantou tímida olhando para as amigas, mas não resistiu e arriscou alguns passos que seu corpo nunca haviam dado. Descobriu que tinha cintura e que ela servia para se sacudir inteira ao ritmo quente que agitava aquela noite. Foi por volta das quatro, talvez das cinco da manhã que eles se beijaram. Ele lembra vagamente por que achou tudo muito rápido. Primeiro dançaram, depois jogaram uma partida de sinuca, ela saiu para beber uma cerveja, e voltou para o lado dele e tornaram a dançar juntos, dessa vez ele trouxe o corpo dela pra perto e mostrou alguns passos mais ousados. O clima ébrio sempre ajuda, e tiveram uma divertida noite como o casal mais distinto daquela turma mesclada de pessoas orientais, e ele ali no meio, o brasileiro que tinha sido aceito na comunidade deles.

Péricles
Enviado por Péricles em 04/01/2018
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