A MATEMÁTICA DA FELICIDADE (III)

Capítulo III

Logo aos 11 minutos Danilo fez 1 x 0 para o São Paulo.

As coisas estavam acontecendo conforme as expectativas, pois agora somente uma derrota por 4 x 1 poderia tirar do Tricolor a vaga na final da Libertadores.

Mas o futebol, assim como a vida, é uma “caixinha de surpresas”. Inúmeros são os exemplos de viradas histórias que frustram o derrotado, mas que garantem uma deliciosa satisfação ao vitorioso.

Por isso, o empate do River, ainda no primeiro tempo, deixou um clima de tensão no ar, logo dissipado no início do segundo tempo, quando o Tricolor fez 2 x 1. No final, 3 x 2 para o São Paulo, que iria para a decisão.

Assim saíamos “felizes” do estádio, enquanto que a grande massa portenha, saía cabisbaixa, triste, o que me levou a pensar na tese de Eurípedes.

A alegria ou a tristeza decorre da nossa percepção. O resultado de uma partida de futebol não é triste ou alegre, mas apenas um resultado. Assim como qualquer evento da vida. Nós é que atribuímos um valor, pois os eventos são neutros. Nisso Eurípedes estava absolutamente correto.

Voltamos para o Brasil, eu em êxtase, mas Eurípedes sereno, sem qualquer demonstração de euforia.

* * *

Na primeira partida da final, contra o Atlético Paranaense empatamos em 1 x 1.

O jogo decisivo fui com Eurípedes num bar chamado Café São Paulo Antigo, no largo Santa Cecília, um lugar aconchegante, com uma das melhores caipiroskas da capital.

Eurípedes bebia com moderação, não por conta das alterações de percepção que considerava uma porta de conhecimento, mas porque a bebida em excesso diminuía a sua capacidade analítica.

Eu, por outro lado, envolvido com o ambiente, não me controlava.

Amoroso abriu o placar e tirante um pênalti que foi desperdiçado no final do primeiro tempo, o Atlético não causou qualquer incômodo e vencemos com facilidade por 4 x 0.

A cada gol, uma caipiroska, fora aquelas que eu já havia bebido antes de o jogo começar. Só alegria!

O jogo terminou e, com o título da Libertadores, tudo o que eu queria era comemorar na Avenida Paulista.

Eurípedes disse que preferia voltar para casa caminhando.

Eu peguei o carro, completamente bêbado e extasiado, e saí descontrolado.

Subi numa calçada e um obstáculo destruiu o cárter. O carro andou 100 metros e parou.

Em alguns segundos, a adrenalina percorreu meu corpo e neutralizou os efeitos do álcool.

A sensação de alegria decorrente da vitória do São Paulo desapareceu totalmente e deu lugar à tristeza decorrente do prejuízo.

Mais uma vez compreendi que a alegria é uma ilusão.

Madrugada de uma quinta-feira, em vez de estar na Avenida Paulista comemorando o título, eu estava atrás de um guincho para levar o carro à uma oficina. Mas podia ser pior. Diante da minha irresponsabilidade, eu poderia ter causado um acidente mais grave, ter lesionado alguém ou até mesmo cometido um homicídio.

Mas será que existe mesmo uma balança que equilibra nossa alegria e tristeza? Ou o acaso, aliado a escolhas sensatas e refletidas pode nos proporcionar uma vida mais alegre?

Com esses pensamentos adormeci num hotel barato no centro da cidade, sem saber se minha noite havia sido triste ou alegre.

(continua)