Olá, como vai?

Manhã nublada; sereninho frio.

Ansioso, ainda sentindo o gosto de café, eu esperava os primeiros raios de sol.

Acomodava-me, como podia, sob a pequena marquise da pousada onde pernoitei.

Estava alheio às horas mas já havia sinais de um frenético dia útil na capital paraibana.

Coletivos com os seus barulhentos motores, buzinas estridentes, pedestres apressados...

E, como um despretensioso expectador, lá estava eu, vivendo momentos das minhas reduzidas férias em um verão chuvoso.

Procurava algo interessante em volta. O que me chamasse à atenção, de qualquer forma ou cor. Tudo, quase tudo, me parecia normal; cotidiano.

Por instantes, senti-me um invasor daquela rotina. Estava tão evidente... Todos com suas preocupações, projetos e metas e eu na contramão da realidade, buscando elementos de sonhos; indícios de felicidade.

Eis que, meio que por acaso, fui forçado a interagir com aquele dinâmico cenário...

- O senhor pode se afastar um pouco?

Alí, poucos centímetros de mim, um homem de estatura mediana, barba farta, chapéu velho e vestes surradas. Sacolas com latinhas e papelões, ocupavam suas desprotegidas mãos.

Foi prontamente atendido seu humilde pedido.

Continuava cabisbaixo desde quando me abordara.

Acelerava-se o ritmo da cidade. Estudantes, trabalhadores, adultos e crianças, aumentavam progressivamente os passos; agora alguns corriam na direção das paradas, dos desembarques e embarques dos mais variados destinos...

- Bom dia, senhor! Como se chama?

- João, pode chamar de João!

Surpreendi, naquele momento, uma pacata figura, símbolo do uma vida sofrida, cujos olhos não o deixavam negar, se quisesse, se pudesse...

Minha curiosidade foi mais além.

- Faz muito tempo que trabalha assim, Seu João?

- Lembro não meu "fi"!

Consegui algo inusitado naquela matutina correria pessoense: Com um largo sorriso, aquele meu semelhante, encharcado pelo chuva, olhou-me com atenção... Retribuindo minha atenção.

- Isso dá dinheiro não doutor!...

Voltou a olhar para o chão, buscando seu sustento, seguindo, continuando rua afora.

Deixou-me com uma vontade danada de prosseguir com diálogo.

Onde moraria o Seu João? Teria família?

Quais seriam suas aspirações?

Fiquei com as indagações, reflexões e lições...

Quem sabe encontrarei o tímido João, novamente, peregrinando pelas ruas e vielas da vida.

Luiz Rodas
Enviado por Luiz Rodas em 24/02/2018
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