Do Texas a Louisiana

Estava finalmente livre! Agora sim não tinha nada a perder, podia rodar o mundo, desbravar novas aventuras, conhecer gente, lugares, formas de vida, culturas, cidades... Estava excitada como nunca. Era mulher do mundo, não poderia jamais ficar infurnada a vida toda no Texas, um lugar onde ninguém a entendia.

Pegou uma roupa qualquer, botou na bolsa e saiu para a estação. De tudo só tinha seu nome, Janis, que haviam dado. Chegou na estação no meio da multidão e meio perdida pediu informações para o guarda que a encaminhou para um guichê de compras de passagens. Pensou um pouco antes de escolher a cidade e decidiu ir para New Orleans, Louisiana.

Sentou-se para esperar o horário do seu trem quando viu uma figura inédita! Ele era magro e pálido, tinha cabelos compridos, usava óculos escuros redondos, uma bata azul, seus jeans eram velhos e surrados, tocava um violão nada discretamente e tinha um cigarro na boca. Ela sentou-se ao seu lado e sorriu. Ele sorriu de volta em meio à dança empolgada com o blues que saia maravilhosamente bem do seu violão preto.

Janis sentiu seu coração disparar na mesma hora. Percebera algo diferente naquela figura imediatamente e parou ouvindo aquele blues. Durante as duas horas de espera o rapaz tocou ininterruptamente seu blues enquanto ela acompanhava balançando o corpo também. Estava derramada em emoções internamente, mas só expunha em forma de dança e sorriso. Sorria o mais puro sorriso que havia sorrido em sua vida. Estava certa de que era realmente uma mulher do mundo.

Ao chamarem os passageiros do seu trem ele parou, esticou a mão e disse:

“Bobby, prazer”

“Janis, muito prazer” Disse ela descabelada e feliz.

Entraram no trem e sentaram lado-a-lado. Começaram a conversar sorrindo. Ela descobriu que ele era de New Orleans e estava voltando da sua primeira viagem sozinho para visitar uma tia em uma cidadezinha do Texas. Ele descobriu que ela era de família rica e quadrada e não queriam que ela saísse nunca do Texas. Ela descobriu que ele tocava blues desde os 8 anos de idade. Ele descobriu que ela descobriu o valor do blues através dele. Ela descobriu nele um ídolo, apesar dele sempre dizer que não queria ser estrela de Hollywood. Ele descobriu que além do seu nome Janis tinha alguns dólares e uma muda de roupa qualquer na bolsa. Ela descobriu que ele falava muito sobre dores, apesar de não conhecer nem um pouco as dores dela. E assim descobriram juntos dois sorrisos que se completaram como as notas de um blues.

Começaram a perceber que jamais se sentiram tão bem em sua vida quanto ali. A chuva batia na janela do trem com força enquanto seguravam as mãos e cantavam músicas de blues. A cada palavra de blues que cantavam juntos era uma emoção interna mais forte. Estavam felizes demais por estarem ali e sentiam na velocidade do trem a força da liberdade. Ela com 19 e ele com 17 em direção a outro estado, outra cidade, de mãos dadas, na chuva, cantando blues era algo inexplicável para ambos que haviam acordado como outro dia qualquer.

Ela contou a ele o quanto ficava chateada das pessoas que riam dela nas ruas da sua cidade no Texas e falou o quanto era incompreendida por todos. Contou a Bobby todos os segredos da sua alma, pelo menos os que conhecia. E assim se conheceram até a estação de New Orleans.

Lá ela disse que queria ficar com ele, que tinha encontrado o homem para cuidar dela e da vida dela. Beijou-lhe insanamente e disse que queria viver para sempre com ele. Enquanto ele ficava constrangido sem saber o que fazer. Era um homem feito agora, não podia se grudar em uma mulher. Virara homem do mundo e assim queria ser. Já tinha caído demais nas histórias das outras meninas, e agora não queria mais passar por idiota nesse jogo. Gostava das caipiras do Texas, eram meninas fáceis para ele, brincava com todas. Mas não com Janis, ela jamais se permitiria isso. Apesar de Bobby estar acostumado a achar que mandava nesse jogo, era melhor parar por aí, enquanto ninguém estava ferido.

Ela começou e ele terminou. Deu alguns dólares para ela e pegou um ônibus em direção a sua casa. Janis decidiu entender o que era a liberdade e pegou outro trem para a Califórnia.

Durante a viagem pensou o tempo todo naquele dia com Bobby e jurou para si mesma que trocaria todos os dias que o amanhã traria por aquele único dia.

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 28/08/2007
Reeditado em 05/09/2007
Código do texto: T627590
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