Insônia

Acordar. Tomar café. Trabalhar. Almoçar. Trabalhar. Voltar pra casa. Jantar. Dormir.

Pagar contas. Fazer compras. Sustentar uma família.

A vida dentro dos padrões não me atrai. A automação do dia-a-dia, a programação da rotina no cérebro, o código da aceitação e da igualdade coletiva, tudo isso me parece a mais extrema perca de tempo.

Toda noite a cortina branca iluminada à luz da lua balança na frente dos meus olhos perdidos e da minha mente inquieta, e do meu ser insignificante e do meu espírito sem esperança.

Os dias passam como os quadros de um filme, as semanas rodam rápido como a fita no projetor. A cada quadro o filme da vida está um passo mais próximo do fim, e a cada quadro o fim parece mais incerto, e o conjunto da obra, mais sem sentido e sem porque.

Porque fazer deste só mais um filme como tantos outros?

Porque fazer desta vida só mais uma como tantas outras?

Num mundo corrompido e sujo como este, é impossível definir o "sucesso", e mais difícil ainda definir o "justo", e não é nem considerável definir o "bom".

A falsa camada do "ideal" impregnada em minha pele trinca e se desfaz mais à cada noite, e à cada noite o conceito de "ideal" parece mais distante e vazio. A cada noite penso em como o que quer que eu faça nesta vida não tem significado, a cada noite me sinto mais livre, e a cada noite me sinto mais perdido na imensidão das possibilidades.

A realidade se torna cada vez menos presente, menos visível, e a irrealidade toma conta, se torna mentalmente palpável, ou talvez seja o contrário.

A estranheza de sentir a existência se torna sempre maior, e sua importância, sempre menor. O filme se torna apenas um conjunto de imagens vazias e supérfluas, e os acontecimentos de cada segundo, indiferentes.

Com o vento, a cortina se afasta e se aproxima lentamente da janela, e os primeiros raios de sol invadem o quarto. Esta foi mais uma noite de plena consciência.

Nicolas M Cunha
Enviado por Nicolas M Cunha em 13/03/2018
Reeditado em 13/03/2018
Código do texto: T6278601
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