Você não sabe da maior

Peguei-me vendo ‘’ Embriagado de Amor’’, me vi mais assustado ainda ao olhar ao redor do meu quarto escuro e não achar nenhum resquício de um 12 anos, visto que nem dinheiro para tal regalia eu possuo. Já era mais de meia noite, um novo dia se erguia entre as ruínas da Constituição e a poeira do STF, pelas barbas do Lula como dá pano pra manga essa Lava-Jato. Procurei o roteiro de algum filme dos anos 80, aqueles bem canastrões mesmo, que o Stallone adora fazer só pra esquecer-me da calhordice diária dessa República.

Eram quase duas da minha querida matina, quando meu grande amigo Barão Alves de Itajaí me telefona:

- Ora, mais que agradabilíssima surpresa Barão, respondi com sincero prazer.

- Desculpe-me incomodar a essa hora, mas as crianças estão viajando e Tânia foi passar alguns dias em Botafogo devido ao trabalho, e olhei nossa velha foto de 1962 e resolvi lhe telefonar, disse o Barão com certo ar de saudosismo.

- Mas isso já tem mais de cinquenta anos, quantas estripulias fizemos nas vielas da Riachuelo 16 , a Lapa era uma segunda casa, se as ruas de Itajaí falassem... mas qual era a ocasião dessa foto?

- Depois que me aposentei das forças armadas eu criei várias manias, uma delas é colecionar garrafas de cerveja e rolhas de vinho, e antes que me esqueça, essa foto foi na inauguração da bodega de Cidinho, ele havia juntado alguns contos, e depois da seleção ser bi campeã na Suécia ele criou coragem de tocar o negócio.

- Ah é verdade, O Cidinho sempre muito generoso com a freguesia, e com a mania de dar em cima de toda rapariga bem apessoada, embora fosse casado. Por onde será que ele anda?

- Está agora em Paris, ele e a esposa se separaram em 70 no tri, parece que agora está com um café perto da Catedral de Notre Dame.

- Não me lembro de cafés perto da Catedral, respondi duvidoso.

- Eu também o questionei, mas ele disse que seu café dá tanta energia que faz qualquer um incorporar o Quasímodo e tocar os sinos da dita cuja...

(gargalhadas ao telefone...).

- Mas Barão, voltando a nossa antiga foto... O que há nela de tão especial que fez o Senhor me ligar nessas horas.

- Já ia me esquecendo, acontece que no retrato você aparece segurando uma garrafa, e eu não sei de que cerveja é.

Nesse instante eu olhei bem para a foto, e ao mesmo tempo em que tentava descobrir o mistério da garrafa, também estava feliz com aquela ligação, afinal o Barão e eu fomos criados juntos na Serra de Itajaí e éramos melhores amigos na juventude.

- Olhe nobre amigo não consigo lembrar, vai ver era uma edição especial de alguma pilsen da época, lembra-se de como gostávamos de Lagers ao invés de Ales?

- Claro que me recordo, bom se você não se importar o Quinca está aqui em casa nesse verão, não quer vim e ver o restante das fotos? Moramos tão perto, mas as obrigações nos devoram. Será como nos velhos tempos, peço ao velho Quinca preparar um cosumel daqueles e lhe mando um taxi pra daqui 10 minutos.

- Desço em 5 minutos, vou levar um cubano pra você seu tolo, acha que não percebi o truque da foto? Eu sei que era um pretexto pra uma ligação, respondi com todo carinho que um velho poderia dizer ao outro e calmamente pus o telefone no gancho.

Nesse instante meu pulmão se encheu como na época dos vinte e poucos anos, eram nessa altura 4 da matina, mas adorávamos viver na boêmia da alvorada, prontamente entrei no táxi e pude desfrutar de um momento que eu achava nunca mais sentir outra vez.

Autor: Rafael de Sales Benício

Editora: A que eu fizer pra me publicar

Ano: MMXVIII