CONSTRUTOR DE SONHO

Era uma manhã primaveril, o sol já havia resplandecido no horizonte e, através dele, se iluminavam as brancas nuvens que bailavam na abóbada celeste. Diferentes espécies de flores coloriam o quintal da casa do garoto, conhecido, pelos seus próximos, como “Capiauzinho”; naquela pequena cidade interiorana, de Minas Gerais...

A casa do Capiauzinho, garoto, então, com seus dez anos de idade, se destacava, não pelo luxo, nem pela ostentação, das demais. Tinha janelas e portas protegidas e camufladas por parreirais de uva e maracujá, pois que, aquele menino, desde pequenino, possuía o instinto de semeador e de cuidador da Natureza... Diziam, sobre ele, que falava com as plantas e os animais... e que interagia, como se amigos ou irmãos, com os diversos pássaros que visitavam seu quintal; provia-lhes comida e cuidados, pois que, ao seu derredor, não havia mais que fazendas de eucalipto e braquiária. A rotina do, esperto, Capiauzinho, que já era um garoto sabido, desde muito pequeno, era sempre a mesma: acordava ao alvorecer, quando o sol inda brincava com a aurora, atrás do mato, e começava, assim como todo bom garoto criado na zona rural de Minas, as suas “obrigações”: levava milho e lavagem aos porcos; jogava milho e canjiquinha para as galinhas e pintinhos; varria os terreiros; buscava água para o pote e filtro... à tarde, tomava seu banho no poço do regato que havia na divisa do sítio, de onde podia contemplar o esvoaçar das borboletas sobre as flores e escutar o gorjear das aves que passavam buscando os campos de alimentação. O menino ficava, horas, sentindo a brisa fresca acariciar seu rosto, sempre com o olhar fixo no céu; longe do tempo e do espaço, a pensar no futuro... O Capiauzinho tinha um sonho, que esperava concretizá-lo quando crescesse: Ele queria ser Escritor, para poder passar mensagens de sentimento de Amor ao próximo e, como propósito, ele almejava que todos vivessem em total comunhão...

Enquanto menino, teve pouca oportunidade de frequentar a escola, onde já entrou sabendo quase tudo que continha o currículo escolar da época; mas, apesar disso, sabia bem mais coisas que o normal para a sua idade. Ele dizia aprender com a vida, pois passava horas e horas lendo livros de sabedoria milenar, Mahatma Gandhi, era seu preferido. Gostava também de ler pensamentos e mensagens edificantes. Em suas horas de folga, aproveitava, na íntegra, o que a natureza sabiamente oferecia; a grandiosidade de todo espaço verdejante da Flora e toda riqueza da Fauna, ofertadas de graça... O garoto vivia na simplicidade, vestia-se sem ostentação; amava calçar uma chinela de dedo, ou mesmo, ficar com os pés no chão, sentindo a terra. Enquanto as outras crianças viviam empinando pipas ou jogando bola de gude, ele se sentava no chão ou ficava recolhido, sozinho, sob a copa das frondosas árvores, lendo os livros que tanto apreciava; da tardinha até o início da noite era hora de debulhar milho, catar feijão e outras tarefas que se faz dentro de casa ou à beira da porta; e ouvir seu pai tocar, na viola ou violão, as canções simples, que o velho mesmo, ou algum amigo, havia composto; e como o velho tinha paciência de ensinar o filho a afinação e as notas simples que tirava daqueles instrumentos...

Um certo dia, o garoto Joãozinho, que morava próximo à casa do Capiauzinho, ficou muito machucado, pois que veio a cair de um Jatobazeiro (uma das árvores mais frondosas do Cerrado), quando tentava resgatar sua pipa, entre os galhos... A mãe do Capiauzinho, sabendo que o filho era diferenciado, pois que, sempre, buscava a Sabedoria e a Fé; pediu-lhe que fosse à casa de Joãozinho, como se a visitá-lo, para lhe dar algum alento; pois que situação era grave: o garoto estava com graves sintomas de febre, quase à convulsão, todas as tardes... Dona Maria, a mãe do Capiauzinho, encontrou-o sentado, em uma pedra, no quintal. Ela aproximou-se do filho e disse:

- Capiauzinho, meu filho, eu quero que você vá à casa de Joãozinho para animá-lo um pouco, ele está acometido por uma febre estranha e não pode sair de casa. Estamos preocupados, pois pode ser que ele não resista.

Capiauzinho, mesmo não entendendo direito o porquê do pedido da sua mãe, pois que não sabia como dar ânimo ao colega, acreditou que aquilo poderia ser um aviso dos Céus. Falou consigo mesmo: “Meu Deus, se a mim foi atribuído esta missão, devo acatar a ordem, de mamãe, sem questionar. Somente peço-Lhe orientação para obter êxito”. E respondeu:

- Sim, mãe, irei visitá-lo agora mesmo.

E, imediatamente, saiu em direção à casa do Joãozinho. Chegando lá, encontrou um clima de tristeza e amargura, que se notava no semblante de todos... E, antes de ser notado pela família, se ajoelhou à um canto da varanda, onde entrou m Estado de Oração, pedindo aos Céus que interviessem, reestabelecendo a saúde ao seu amiguinho querido... Sentiu um leve tremor percorrer toda a sua pele, e uma Luz, como se a revestir todo o seu corpo; e as suas mãos aquecidas, como se segurasse uma lâmpada acesa entre elas... E nesse estado, radiante, adentrou a casa, sem nem mesmo se dar à praxe de cumprimentar os donos. Chegando ao quarto, notou que Joãozinho ardia em febre, inconsciente e delirante, pela infecção dos ferimentos que a queda lhe imputara. Aproximou-se do garoto tocando-lhe a testa, com suas mãozinhas, ainda aquecidas, permanecendo, assim, por alguns segundos... logo depois deixou o recinto, cabisbaixo... recolheu-se cedo ao seu quarto, se sentindo muito cansado, como se algo houvesse sugado suas energias e, caiu em sono profundo. Foi despertado por vozes que vinham do corredor. Levantou-se e olhou pelas frestas da porta de seu quarto; sua visão dava diretamente no comprido corredor. Viu que sua mãe gesticulava com alguém... não podia acreditar no que estava vendo, era o Joãozinho; logo pensou: “Será que ainda estou sonhando!”. Já ia sair do quarto, quando sua mãe entrou.

- Meu filho, quero contar-lhe uma boa nova... Joãozinho está curado. Ele esteve aqui, agora mesmo; trazendo uma vasilha de doce de pequi, pois disse que sonhou contigo, onde os dois, juntos, brincavam entre pequizeiros iluminados, e que você passava uma luz muito bela, de suas mãos para a cabeça dele. Disse-lhe sua mãe.

- Obrigado mãe, foi um milagre dos Céus! Disse-lhe o filho.

Anos se passaram... o garoto Capiau cresceu, ele tornou-se poeta e escritor, têm vários livros editados. Ele construiu seu sonho: passa mensagens edificantes de Amor, em versos rimados e fidedignas palavras, para àqueles que acreditam na Verdade.

Que o Amor habite em nossos corações e a Fé continue realizando milagres...

Elisabete Leite – 22/03/2018

(com participação especial de Violeiro Mineiro Capiau)

Elisabete Leite
Enviado por Elisabete Leite em 17/04/2018
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