Ânimos passageiros

Está chovendo hoje na cidade, mas as ruas estão cheias. Cheias de carros, humanos e cachorros. Como tem cachorro por aqui.

Não consigo me acostumar com essa sensação de que algo está para acontecer.

Eu fico ansioso com a ansiedade e isso me aflige.

Acho que os próximos anos serão bons. A televisão disse que a safra de julho será histórica e o motorista do ônibus que tomei mais cedo disse a uma passageira que o bairro irá receber duas novas linhas.

Ontem avistei a nova vizinha do andar de cima subindo as escadas. Um tipo bonita: olhos pequenos e pernas grandes. Aparentemente frequentava mais academias e escadas, do que bares. Fiquei um pouco frustrado, mas logo passa.

Quanta coisa acontecendo!

Esses dias liguei na editora.

-Boa tarde, meu nome é Gabriel Barban.

(Silêncio)

-Bom… estou ligando para saber se já tem alguma data para o término da avaliação da segunda edição, que enviei da minha obra. Com quem falo?

-Você fala com Vanessa, respondeu-me uma voz que não aparentava estar em um bom dia.

-Olá Vanessa. Pode me ajudar por favor?

Perguntei com uma educação poucas vezes presenciada.

-Não posso, a responsável está almoçando e você terá que ligar mais tarde.

Olhei no relógio que marcava 15h52.

Suspirei.

-Qual o nome da responsável por favor, Vanessa?

-É a Santana.

-Ok, ligarei mais tarde e falo com ela. Obrigado.

Em uma tentativa de tentar provar para mim mesmo que a Vanessa não havia tirado minha sanidade, coloquei o telefone no gancho com extremo cuidado.

Abri a janela novamente e a chuva havia dado lugar a uma garoa fina.

Fui então a cozinha, preparei um chá, cortei uma belíssima rodela de limão e sentei para ler uma revista sobre tecnologia.

Me senti como um sexagenário a beira de um colapso mental. Uma pena que só fiquei pensando na Vanessa.

Ás vezes, quando a gente estiver se sentindo dono do mundo, a gente só precisa depender da Vanessa. Há muitas por aí, pode apostar.

Liguei umas horas depois. A avaliação estava pronta e já havia sido enviada para meu e-mail.

Irei lê-la no sábado, quem sabe estará sol.

Gabriel Barban
Enviado por Gabriel Barban em 10/05/2018
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