SAUDADE DO MEU SERTÃO

As lembranças que carrego em meu peito revelam o saudosismo que sinto por aquela tarde do mês de setembro no sertão da Paraíba. Encontrávamo-nos reunidos no sítio da tia Iraci: tios, primos, amigos, mainha e eu. Era uma tarde alegre como todas as outras; apesar da simplicidade do lugar, algo mágico existia ali. Enquanto nos reuníamos na varanda da casa, sentada na cadeira de balanço de nylon azul, observava com alegria aquela casa grande e despretensiosa. Lembro-me dos cômodos da casa: na cozinha, havia um fogão a lenha, apesar de já termos fogão a gás, mas nada se comparava à comida preparada no fogão a lenha. A geladeira também já existia, mas beber água do pote era fascinante! aquele gostinho de terra molhada... A mesa de madeira forrada com uma toalha de plástico colorida, alguns bancos ao redor da mesa e sobre ela uma fruteira com bananas e laranjas; os quartos grandes com suas camas e redes. Uns destinados aos nordestinos de nascimento e outros para os visitantes. Eu adorava dormir na rede, no balançar, como uma mãe a ninar seus filhos. A sala era apenas um vão, algumas cadeiras e lá ao fundo uma televisão que mais parecia servir apenas de enfeite. Já havia energia elétrica, mas a lamparina ainda não perdera sua utilidade. E, naquele contentamento, observava os sorrisos espontâneos, cada um com suas histórias, suas aventuras! Enquanto os animais passeavam pela frente da casa, as galinhas ciscavam, as cabras com seus sinos a tocar e a berrar, o cachorro que dormia no canto da varanda, o jumento amarrado junto ao pé de juá, os bois a mugir no curral, as aves voando em busca de alimento e água. E naquela paisagem cinza, típica do sertão, com o sol escaldante, via um pé de juazeiro verdinho - verde da esperança - pensei. Naquele ecossistema aparentemente sem vida, enxergava a vida em todos os lados. Era belo. E o pé de Juazeiro fazia-me lembrar que, apesar de toda dor, a esperança renasce todos os dias como aquela árvore. Resignação. A estrada de chão... lá ao longe, onde se podia ver alguém passando, depois de um dia de labuta... e os sons estranhos que não conseguia decifrar, apenas sabia que era um mundo desconhecido aos meus olhos. A tarde já estava se despedindo, o sol se escondia por trás daquelas serras, os pássaros já se acomodavam em seus ninhos, os animais já não faziam barulhos. Nesse meio tempo, tia Iraci já tinha preparado seu delicioso café, que tomávamos ainda sentados na varanda da casa. O amor estava presente ali. Eu podia sentir. E, enquanto saboreava aquele café, observava com atenção o entardecer daquele dia, o mais lindo de todos, parecia que o sol queimava as pontas das serras, era como se ouvisse o chiado ao tocá-las; e aos poucos dava lugar para outros astros, era como trocar de cena. Um grande teatro do sertão! E nós fazíamos parte daquele espetáculo. E a noite chegou. Linda! era noite de lua cheia, propícia para as histórias de terror (risos), nunca tinha visto um céu tão estrelado, parecia um grande pisca-pisca do universo. E agora era o som das aves noturnas que se fazia presente, e os vaga-lumes com suas luzes incandescentes perto de nós, a brisa leve de uma noite tranquila. E já era hora de despedir-se, a lamparina serviu de guia para os que voltariam para suas casas. Nesse momento já me encontrava sozinha, foi quando uma lágrima rolou por minha face e eu sorri, olhando para aquele céu magnífico, agradeci a Deus por aquela oportunidade única em minha vida; já era quase madrugada e eu continuava na varanda da casa, podia ouvir minha mãe conversando com tia em um dos cômodos, meus primos cansados já tinham se recolhido aos seus quartos; e eu ainda continuava ali sentada, e refletia: a felicidade, apesar de ser uma busca constante, é feita de momentos como este. O amor estava ali em todos os cantos e em todas as pessoas, em cada sorriso, em cada lágrima. Foi quando mainha se aproximou e com uma voz serena disse: Hora de dormir, mocinha. Minha rede já estava armada, deitei-me e ela se despediu dando-me um beijo na testa e abençoando-me, saiu. E antes que eu pegasse no sono, pela janela do quarto ainda pude admirar um pouco mais aquele grande universo estrelado, e com o balançar da rede adormeci com semblante doce como alguém que encontrou a felicidade.

Souza S Patricia
Enviado por Souza S Patricia em 25/05/2018
Reeditado em 24/03/2024
Código do texto: T6346437
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