Gráficos de um ano novo
Havia a expectativa. Sempre há. Como há também a contagem regressiva, os fogos, os gritos e as simpatias, ondinhas e orações. Da explosão que segue a contagem descendem também os cantos, abraços e beijos.
Ao berro de “2, 1 feliz ano novo!” fui cumprimentando a todos, com aquela externa euforia de um novo início, porém com um interno e crescente silêncio. Busquei minha mãe, como criança faz quando levanta do tombo. Não consegui falar... Irrompi em abruptos choros e soluços. Ela indagava e eu não conseguia, não sabia explicar. Até porque eu não sabia o que me acontecera. Ela me acalmou daquele jeito que só mães sabem fazer. Estabilizei, controlei o mix de sensações.
Na tarde desse 1º de janeiro, Amadinho perguntou-me o que acontecia, pois já era a segunda virada de ano seguida que eu desabava.
- Eu não desabo. Não... Eu me permito.
Foi visível o não entendimento dele. Expliquei então:
- Eu me permito ser menino, ser criança, sabe? Sem responsabilidades, sem pressa, sem culpa. É como se nesse momento da virada eu pegasse tudo o que ocorreu no ano todo e fui juntando, pegasse tudo e visse de desfazer, sumir. E ainda tem toda emoção de estar com a família.
- Entendi... E o que você espera para esse ano?
- Eu? – indaguei.
- É, primo! – respondeu Amadinho.
- Eu espero silêncio.
- Silêncio? – novamente não havia me feito claro.
- Sim. 2015 foi muito barulhento em tudo. Eu quero silêncio e sossego. Não no sentido de sumirmos, mas que tenhamos paz conosco.
- Poxa, que bonito isso.
- Eu sei, Saiu da minha boca.
De fato, modéstia nunca foi meu forte. Rimos e, ali jogados em colchões no chão do quarto na casa da Vó, passamos o restinho da tarde daquele primeiro dia do ano, falando de planos e lembrando histórias dos outros anos novos.