GOSTO NÃO SE DISCUTE, NEM RAÇA


Foi numa quarta feira que o Zé se foi e a Lídia voltou a ser só.
Ele partiu sem assistir ao tradicional jogo de futebol na Globo e quase sem deixar vestígio. Apenas uma camiseta surrada e uma camisa que Lidia ficou de pregar um botão. No banheiro ficou um frasco de 'Old Spice' que ela logo descartou no lixo. Foram dois anos aturando aquela fragância, ou melhor dizer, aquele cheirinho sem graça e enjoativo. Quanta coisa uma mulher tem que aturar em nome do amor, pensou Lidia.
As lágrimas procuravam descer pela face daquela mulher de trinta e poucos anos, mas seu orgulho dizia para engolir em seco e levantar a cabeça se não a coroa cai.
Lembrou das palavras de sua mãe, "Você não nasceu colada a ninguém, viu menina."  E se lembrou daquela canção do Ivan Lins e Vitor Martins, 'Começar de Novo'.  E assim Lídia seguiu em frente mais uma vez que nem a Malu. 
Um mês se passou e Lídia descobriu que havia vida sim após o abandono. Se sentia firme, forte e viva. 
Um domingo à tarde, enquanto assistia a um seriado novo no Netflix, seu celular tocou. No visor, o número lhe pareceu familiar. Lídia atende com um simpático oi.
A voz que atende é feminina e rouca.
"Oi chifruda! Como anda sua cama? Vazia e fria?" 
Lídia não acredita. Que atrevimento daquela mulherzinha.
Respondo? Nao respondo? Pensou lidia enquanto ouvia as risadinhas e uma voz grossa que pedia o celular de volta.
Mas aquela mulherzinha resolve falar sem freio.
"Então Lídinha, Zé falou que você adora um forró pé de serra.Tem ido lá na Casa da Safona tomar umas geladas e se  esfregar com algum macho? E ainda faz aquela peixada deliciosa com pirão de camarão, sua tonta?" 
Lídia resolve soltar o verbo, mas com elegância. Vulgaridade nunca foi seu forte.
"Pois é fulana, a vidinha de vocês deve estar um porre só, hein. Imagino que os dois não têm nada melhor do que fazer do que falar sobre mim. É o Ó, heim! Vou desligar agora porque o Dom se deitou e me aguarda." 
E assim Lídia desligou e nunca mais pensou naqueles dois infelizes. Sabia de certa forma que incomodava a fulana e que o Zé não a havia esquecido ou pelo menos não da sua peixada e pirão de camarão. 
Será que havia mesmo um tal de Dom na cama da Lídia?
Como resolveu não ficar mais sozinha, Lídia passou na casa da amiga Rita para um 'happy hour' e logo que bateu o olho no Dom se apaixonou e tratou de levá-lo logo para casa. 
Naquela mesma noite, Maria Julia Coutinha anunciou que a temperatura seria a mais baixa do ano, mas Lídia não estava nem aí porque sabia que o Dom daria conta do recado.
Ainda bem que a pastora da Rita havia dado aquela escapadinha com um galgo afegão e não um pinscher alemão.

         
                              
 
                  
 
Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 08/06/2018
Reeditado em 08/06/2018
Código do texto: T6359041
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