No Shopping

Encontrou-a no corredor do Shopping.

Sorria exibindo os dentes alvos, encantadores; os olhos muito pretos brilhavam, insinuando promessas; a voz escorria, macia, envolvendo o interlocutor; o vestido colorido realçava as formas do corpo alvo, tentador; requintava-se nas gentilezas, que arrebatariam mesmo o mais distraído; Os cabelos, presos por uma passadeira, lançavam um perfume inebriante, feminino. Às vezes reforçava o verbo com um toque descuidado, quase casual; aquilo terminaria num chope. Talvez algo mais.

Desgraçada. Afrontava-o flertando com o primeiro infeliz. E nem o enxergava.

Pensou em fazer um escândalo. Gritar impropérios. Apontar o dedo acusador. Quem sabe surrá-la, humilhá-la, arrastá-la pelo corredor encerado e luzidio, até que um segurança o contivesse com uma bordoada.

Mas não fez nada disso.

Partiu transtornado. E julgava que Consumidores apressados se deleitavam com a tragédia que ele levava estampada na face. Foi remoer sua dor no escuro da próxima sessão de cinema.