Ziguezagueando 29

Por mais que não quisesse, doía nele remoer. Mas era a pura verdade; não conseguia ficar mais de dois pares de dias com Jovita. O tempo reservado integralmente a ela era sob medida, justinho no seu interesse, aquele v e r d a d e i r o, puro e desimpedido, dentro e fora; de ficar junto da única mulher que não incomodou sendo ela nas quatro paredes.

Não sentia enfado do ruído e movimentar dela no banheiro, quando levantava pela manhã e ia se higienizar. O cheiro de Jovita era natural, característico, não o enjoou com o tempo, mesmo que usava como perfume, uma fragrância por mais de quinze anos.

Dormindo ou acordada, Hugo nunca se sentiu incomodado com a presença ou movimento dela ao seu redor. Ele tinha suas manias, gostava dos livros arrumadinhos na estante, odiava música alta, nem risadas surpresas, aquelas do condomínio inteiro ouvir. Era homem previdente, de partilhar ações comedidas, preparadas no requinte para gerar e manter um bom papo. Podia ficar horas numa conversa, desde que o motivasse, senão, logo arrumava desculpas para evasivas.

A rotina foi esclarecendo para Hugo, que Jovita portava justamente as ações que o levavam ao desconforto no relacionar, era escandalosa no riso, tecia conversa com temas variados, era do improviso, às vezes, no auge de um diálogo, deixava-o falando sozinho, e se dirigia para cozinha, dava o surto de querer cozinhar, mesmo fora de hora. Mesmo assim, depois de anos, continuava amando-a.

O melhor ainda continuava sendo retornar para a casa do domicílio profissional, e envolver-se nos seus redemoinhos. Tinha mudado para uma Quitinete, era quase que resumida em: fogão, mesa com quatro cadeiras, cama e guarda roupa, e centenas de livros espalhados por toda casa.

A finitude da vida, o fato de sermos transitórios para razão, sem sentido e significação, impalpáveis, fazia de Hugo um homem solitário por opção. Não se bastava, mesmo amando.

O falar místico dos antigos, dentre eles, o dos Egípcios, e dos Sírios, trazem um caminho simbólico para a fusão do feminino e masculino no interior do homem, no fluxo do amor divino.

As orientações antigas traduziram que, uma vez nascidos, homens e mulheres na Terra tem a oportunidade de mergulharem nas camadas profundas da consciência, tendo a oportunidade de se conectarem com o feminino divino, que existe no interior de cada um, e uma vez assumido-o em essência, capacita o masculino divino a tomar a espada da verdade, que corta as amarras da ilusão, com base no amor e na harmonia.

Com a união destas almas gêmeas que existe em nossa morada interior, criaríamos a própria realidade sem as armadilhas da ilusão, tornando a realidade possível ao nosso redor, pela vontade pura e desimpedida, liberta do ego, que fragmenta, individualiza, e tenta eternizar o transitório.

Tornaríamos senhores do próprio destino, arregimentando a mente e a vontade como espada flamejante , limpando o próprio caminho rumo a libertação, descartando os grilhões do tempo, presas que insistem em nos deixar encadeado nas ações do passado, esfumaçando as centelhas divinas que portamos.

Sairíamos em definitivo do pântano dos desistentes, onde sanfonávamos com a legião de fracassados, a música que nos lembrava de termos conquistado o que não queríamos, e de não termos o que sempre tínhamos almejado.

A narrativa mística egípcia, encenando a busca da fusão do princípio masculino e feminino nos homens, traz a Deusa Isis, que capacita o Deus Osiris, há um ato de criação mágica para que o novo nasça sobre a forma da criança sagrada, Hórus, que bani as trevas, e cria a era da luz.

Pelo caminho metafísico, ou não, o fato é que o ser humano sempre foi alvo de preocupação na humanidade, para se tornar auto realizado, que a vida pudesse ser significativa. Intuíram desde os primórdios, da necessidade do homem de participar de uma comunhão brilhante do casamento sagrado consigo mesmo, entrar em contato com as almas gêmeas que habitam no interior de cada um, permitindo a fusão delas, por intermédio da integração dos três, corpo, alma e espírito, por intermédio da vontade própria.

Uma vez gerada a união de todos os aspectos no interior, estaríamos aptos para criar o bom, o melhor, sob a égide do amor e da harmonia, da criatividade, e da compaixão divinos.

O objetivo é tornar o coração tão leve como a pluma. Baixar a frequência vibratória dos níveis que geram o desequilíbrio interior, ódio, mágoa, ira, medo, dúvida, ambição, avareza, medo, preguiça, dentre outros, que soam como submetidos a uma cadência de escala cromática, que levam à fórmula mágica da destruição.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 05/07/2018
Código do texto: T6382575
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