Ziguezagueando 42

Ziguezagueando 42

Hugo queria ver estabelecido o contraditório para aquele drama, não encontrava argumentos. Não teria mais Jovita. Chacoalhou a esposa, querendo uma reação, não queria acreditar. Era o fim.

A respiração ofegante cessou, junto, silenciado para sempre a voz da única mulher que se sentiu motivado a se revelar, e ser de forma partilhada.

A morte não permite argumentos, cala soluções, interrompe abruptamente o “continuum” do tempo. É o ponto final da última frase da história de uma pessoa, que ninguém quer ver como sua. Saiu Jovita de cena.

Hugo nunca imaginou sentir tamanha solidão, o quarto foi tomado de uma desintegração sutil, que se via quando a fisionomia de Jovita passou para uma brancura opaca. Hugo fez foi sentar novamente na poltrona, passou girar a aliança no próprio dedo, ruminando pela primeira vez o gosto amargo da perda da pessoa que havia dado a ele ambientação emocional para o viver, sem estar com aquele gosto insosso de inutilidade.

Tudo tão recente, parecia que os outros membros da casa consentiram que este momento fosse somente deles. Hugo não chorou mais, ficou somente inerte, assumiu um embrutecimento interno diante do fato de sentiu-se como tivesse ido uma parte dele. Um ar umidificado circulava no ambiente, sem um barulho sequer.

Chega Nina e Merlinda, quando deparam com Jovita inerte sobre a cama, com o aspecto amorfo, correm desesperadamente em direção a cama confirmando o óbito. Muito choro.

Jovita deixou esclarecido aos filhos como queria que fosse a solenidade para o enterro. Que fosse cremada, e as cinzas do seu corpo jogadas ao mar. Que fizessem um aglomerado a beira praia, pessoas que ela estimara, Hugo, os filhos, prima, e os poucos amigos que restaram da velhice, para que presenciassem a ida do resto do que foi para o oceano.

Lançaram o pó ao mar, era num final de tarde, o Sol querendo se despedir doo dia. As ondas, quando do lançamento, pareciam que acarinharam amorosamente o pó lançado, continuaram vaguear na imensidão das águas, tornando, definitivamente, a mulher que foi um dia, Una com a natureza.

Jovita dizia que não abandonaria aqueles a quem amou, estaria com eles em suas veias, no sangue que percorria em seus corpos para dar vida. Para sempre.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 20/07/2018
Código do texto: T6395426
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