As Aventuras de Tânia

Era uma noite bastante chuvosa quando, nas proximidades do ponto de Moto-Taxi, nas imediações da avenida Suburbana, um elemento de atitudes suspeitas está á espreita atrás de um poste. Neste momento, duas garotas, caminhando com dificuldade, devido á violência do temporal, tentam equilibrar-se carregando os livros, cadernos da faculdade e o guarda-chuva. Ao avistar o meliante, uma das colegas (Nara), pôs-se a correr deixando para trás Tânia que, à princípio, não esboçou nenhuma reação – ela estava paralisada, seu rosto petrificado e seus cabelos, que tinham se submetido a uma chapinha no dia anterior, pareciam um caroço de manga chupado, dando a falsa impressão que era liso.

Tânia Sousa Santos é estudante de pedagogia e professora de profissão. Está no último ano do curso e pretende fazer Especialização em Psicopedagogia com Foco em Violência Urbana. Juntamente com sua colega Nara, amiga de infância e moradora do mesmo bairro, encara uma rotina diária que inclui – além do trabalho e estudo – diversos afazeres domésticos e trabalhos voluntários em creches e associação de bairro. Todavia, aos finais de semana, Tânia “come água” em barzinhos da comunidade em companhia dos moradores da área (uma maneira de, segundo ela, fazer pesquisa empírica).

Em meio àquela tempestade, Tânia só imaginava uma coisa: chegar em casa e aninhar-se em sua cama quentinha abraçada ao seu ursinho Lulu. Porém, naquele momento, tudo o que ela via à sua frente era um sujeito de compleição física avantajada e um semblante aterrorizante.

-PASSE O CELULAR!! - bradou o malandro olhando fixamente para Tânia e com uma das mãos no bolso do jaleco; sua voz ecoou como um trovão no meio da noite o que deixou a professora ainda mais apavorada. Diante daquela figura estranha, Tânia ficou ali, parada, inerte; seu corpo não conseguia atender a nenhum estímulo; da garganta, seca, saía um grito, surdo, bloqueado pelos lábios trêmulos que falavam algumas palavras desconexas (inaudível para o seu interlocutor que continuava esperando a entrega do celular). O que a professora teria dito naqueles momentos cruciais? Quais segredos poderiam ser revelados naqueles instantes de pavor? Tudo não durou mais que dez segundos até que a chegada de um ônibus desviou a atenção do meliante (o ônibus 765 ou S. João do CabritoxLapa) e do interior do coletivo um suposto comparsa acena com um “salve” para o malandro. Aproveitando-se desta distração, a professora Tânia sai em disparada sem medir as consequências de seu ato insano. Ela correu como se tivesse atrás de si um motor de pôpa, deslizando sobre a enxurrada que se formou na rua Variante, deixando os transeuntes impressionados com tamanha velocidade (principalmente Tinho que em seus treinos de corrida tenta superar sua marca de dez anos atrás e viu Tânia superar em dez vezes seu recorde).

Ao chegar em casa, Tânia entra porta adentro deixando todos atônitos, principalmente Tinho, seu irmão, que segue em seu encalço. Tinho procura em todos os cômodos sem sucesso, até que vozes vindas de um quarto anexo denuncia a presença da professora: ela estava embaixo da cama e repetia, sem parar, a palavra “NÓQUIA, NÓQUIA, NÓQUIA”. Ela estava com um celular desta mesma marca nas mãos e, segundo ficou apurado, era o que ela tentava falar para o bandido na hora da abordagem (ou seja, uma marca de celular “peba” que poderia induzir o ladrão a uma atitude mais violenta).

Noite de pavor!

Niltonil
Enviado por Niltonil em 15/10/2018
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