Fracasso
Sinal Vermelho. Passos longos, velozes. Não dá tempo nem pensar. Chicletes, chocolates, pastilhas. Vidros fechados. Motoristas receosos. Será que ele é ladrão? Pensa a senhora temerosa.
Apenas alguns centavos. Sai daqui pivete. Reclama um moço atormentado. Cabeça baixa.
Já é maio-dia. Hora do almoço. Falta comida, falta dinheiro. Resta apenas ficar embaixo de uma árvore. Talvez a sombra possa consolá-lo. Não. A sombra não sacia a fome do garoto.
Sinais fecham e aabrem. Vermelho. Verde. Vermelho, verde. Nem sequer um trocado. Dia inútil, tempo perdido.
Voltar à casa sem conseguir nada.Pensa o garoto. Se desespera. Os olhos se transformam em lagoas de água cristalina. Uma lágrima rola em sua face, Hora de retornar. No peito, a tristeza, o tormento do dia que a caba de passar, repleto de pesar.
Sonhos que vão embora, pouco a pouco. Ele acaba de ver que a vida não é como ele imaginava que fosse. Observa os garotos que saem da escola. Queria ser como eles. Na verdade, queria mesmo era um trabalho digno para a mãe, uma casa, um videogame. Nada extraordinário. Por que meu Deus? Será que não me ouve? Ou não me dá atenção?
O garoto muda, vai seguir outro caminho. Treze anos apenas. Não conseguia nada. Trocou as pastilhas por balas. Baças que matam. Trocou o chiclete pelo canivete. As bala, nunca as usou; o canivete, ele só mostrou. Agora, vive esse garoto se alimentando do medo alheio. Vivendo à custa do pavor. Bem que ele tentou. Ser honesto é difícil.
Mas o fracasso do garoto é o fracasso do povo, é o fracasso dos poderosos, é o fracasso da justiça, é o fracasso da Nação.
O sinal continua vermelho! Quando será que ele vai abrir?