Nomes

A vida me presenteou com Nilda. Mas a vida inteira eu tive traumas com nome e namorar uma mulher que se chamava Nilda era um horror. Ela era motivo de chacotas no bairro inteiro e o que mais me irritava em Nilda era seu nome. Mas as chacotas eram por outro motivo. Nilda era feia demais. Sua feiúra impressionava a todos e eu morria de vergonha de andar na rua com ela. Chamava-a de bebê para não ter que pronunciar o seu nome.

Nilda tinha pernas finas e pneus maiores do que de caminhão. Chamavam-na de soverte sujo. O sorvete era devido a sua anatomia e o sujo era porque Nilda além de ter caatinga falava palavrão o tempo todo. Alguns a chamavam de ervilha também, pois tinha uma falha tão grande nos dois dentes da frente que diziam caber uma ervilha. O pior que meu irmão ainda a chamava de Nildete só para me chatear.

Essa foi a época que eu fiquei mais pálido. Não saia de casa, só para a escola. Ficava o dia inteiro em casa com Nilda depois da escola. Ela fazia meus exercícios e depois ainda fazia um lanchinho... Era uma maravilha! Nilda parecia a menina mais fogosa do mundo. Era um furacão na cama. Acho que era assim devido a sua feiúra. Mas lógico que só podia chamá-la de bebê senão eu brochava. Ninguém queria Nilda.

Um dia eu disse a Nilda que iria para o trabalho do meu pai ajudar ele, mas a menina parecia um chiclete e perguntou se poderia ir junto. É claro que não, eu disse.

“Mas por que não?” Estava desapontada por não passar a tarde comigo.

“É um lugar de trabalho bebê, não tem nada a ver” Dei tchau e fui embora rapidamente. É lógico que não ia beija-la na frente da escola toda. E também é claro que eu não ajudar meu pai coisa nenhuma. Eu queria era me livrar daquele encosto. E mesmo que eu fosse para o escritório dele, já pensou que situação eu chegar lá com aquele trambolho?

Cheguei em casa almocei e fui encontrar a galera na quadra do bairro. Desconfiavam que eu tinha alguma coisa com ervilha, mas eu sempre desmentia ou mudava de assunto. Uma vez um amigo me disse que me vira entrando em minha casa com aquele bagulho. Eu disse que ela estava vendo um emprego de lavadeira com a minha mãe. E é lógico que ele espalhou para a escola inteira e isso chegou aos ouvidos dela. Ela perguntou porque eu tinha feito isso e eu simplesmente enrolei e mudei de assunto. Sorvete sujo morria de medo de brigar comigo.

Joguei bola a tarde inteira e tinha esquecido como isso era bom. Decidi então que tinha de dar um tempo de Nilda e volta a minha vida social. Quando me perguntavam porque eu ficava tanto em casa eu respondia que os estudos me ocupavam muito e alguns colegas achavam estranho que o meu desempenho na escola melhorara tanto.

Com certeza a rolha de champanhe não saberia que estaríamos dando um tempo, assim eu a teria quando tivesse necessidade. Passei então a desafiar minha criatividade e inventava uma desculpa a cada dia, cheguei ao cúmulo de dizer que ia para retiro espiritual durante os finais de semana. Até gostava da brincadeira. Eu fingia que falava a verdade e ela fingia que acreditava.

Nilda me dizia que quando completasse dezoito anos mudaria de nome só para casar comigo e aquilo me fazia um bem tão grande.

Mas ai uma desgraça aconteceu. Nilda vinha do interior e uma tia velha que ela tinha lá havia morrido então ela teve que voltar para lá.

Senti um vazio imenso. Uma saudade daquele sorriso falhado, o calor daqueles pneus em minha barriga... Parecia que o mundo tinha parado. Ir para casa sozinho sem ter que mentir para Nilda me partia o coração. Perdi de ano e meu desempenho na escola estava pior ainda.

Mas ai, conheci Renata. Um nome comum para uma menina comum. Renata era tão comum que é complicado descreve-la. Apelido então era só Rê, Renatinha... Esses assim sem graça. Até me apaixonei por Renata, ela era legal e tal. Só que a vida começou a ficar muito chata e muito comum com ela. Até o sexo com Renata era comum.

Ô saudade de bebê...

Malluco Beleza
Enviado por Malluco Beleza em 11/09/2007
Código do texto: T647988
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.