Uma mensagem do alto

Ela sabia que precisava tomar uma atitude. Estava postergando aquilo há semanas. Mas daquele dia não poderia passar. Então fez o que tinha que fazer. Decisão difícil e dolorida, mas fez. Tentou o máximo possível abrandar a voz, usar palavras neutras. No entanto, por mais que se esforçasse para amenizar a situação, nada lhe tirou a dor no coração de ter que fazer aquilo.

Foram apenas alguns segundos e de repente se viu aos prantos, encolhida no quarto, se sentindo o pior ser humano. Se odiando, se sentindo um monstro, em dúvida se era mesmo necessário tomar aquela atitude. Não conseguia nem puxar o fôlego direito, só sentia o calor das lágrimas descendo continuamente pela face, igual água escorrendo dos morros em dia de chuva forte.

Ficou assim por algum tempo até se acalmar e então lembrou das obrigações que a chamavam. Se arrumou e seguiu a vida, sem o brilho de antes, com olhos apagados. Em cada lugar que ia, as pessoas pareciam saber o que tinha feito. Ela sentia o olhar de reprovação. Talvez dela mesmo, refletindo nos outros. Até que encontrou uma amiga e conseguiu desabafar. As duas choraram juntas, recebeu palavras de apoio e conforto, que a fizeram repensar a culpa e acreditar que havia uma razão de ser para tudo aquilo. Foi então para o próximo compromisso, já um pouco mais leve.

Eis então que, Deus, vendo seu sofrimento, lhe deu mais uma chance de se reconciliar consigo mesma. Ouviu de uma senhorinha, que nunca tinha visto antes, que “seu sorriso é tão lindo”. Lembrou então que tinha esquecido de sorrir há bastante tempo e como isso revigorava sua alma. Ficou emocionada com o momento e olhando no espelho ensaiou outro sorriso, ainda com os olhos inchados. Sempre acreditou no amor divino e aquela frase, daquela senhora, foi a materialização desse amor. Sentiu seu peito encher-se de vida novamente. Teve uma prova que o amor ainda existe. Que apesar de poucas, as pessoas ainda sentem e manifestam esse sentimento pelo outro. A gratidão foi tamanha que abraçou aquela senhora como se estivesse abraçando sua própria avó.

Ao chegar em casa, novos pensamentos tomaram conta da sua mente, restabelecendo a força interior e a fé nos desígnios celestes. Fez o que poderia fazer e isso bastava por enquanto.

Debora Claudio
Enviado por Debora Claudio em 29/11/2018
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