Ele dizia saber o final da história.

Ele dizia saber o final da história, eu o questionava; ele me olhava de cima, com o queixo alto e o peito estufado; eu me limitava a uma postura neutra, um olhar médio, fitava-o de cima a baixo.

Com poucas palavras, ele me contava como tudo acabaria, contava tudo num tom dogmático, eu deixei que ele concluísse a sua missa, mesmo porque, sabia que ele não me escutaria.

Fiz sinal para a atendente , ela veio até nós e então, pedi dois cafés pequenos e puros, fiz questão de dizer que eu pagaria pelos cafés, nos sentamos a uma mesa e meu amigo voltou com o discurso, eu vi cada palavra, mesmo que o vocabulário dele fosse extremamente limitado; para ser sincero, todas as frases dele eram muito parecidas, talvez, mudasse somente a entonação. Dizia saber como acabaria a história.

A atendente trouxe os cafés, agradeci e logo despejei dois saches de açúcar e mexi o meu café, meu interlocutor tomou o café puro mesmo, sem açúcar, estranhei, mas nada disse.

Não quis tomar mais tempo do que levaria para sorver o café, ao contrário do meu amigo que como tomava o café puro, tinha certa dificuldade para tomar, me pergunto se o desgraçado não viu o açúcar, ao menos, a cada mini gole de café, ele interrompia o discurso, os melhores segundos da conversa. Enfim, ele havia terminado o café dele; nos dirigimos até o caixa e como prometido, paguei pelos cafés, nove reais e nem eram tão bom assim, mas, paguei e saímos, mesmo na rua, ele não interrompia a fala, sabia como as coisas terminariam, já àquela altura, limitava-me a assentir com a cabeça. Após poucos metros de caminhada, minha companhia de conversa foi atravessar uma rua aparentemente tranquila, neste momento, um carro desceu a rua em alta velocidade. Pegou ele em cheio.

Talvez, ele não soubesse desta pequena parte.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 01/12/2018
Reeditado em 07/09/2020
Código do texto: T6516771
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