REALIDADE
Quando encontrei meu amigo Carlos Eduardo ele estava bêbado, com cabelos muito brancos e esfarrapado, usava roupa puída, camisa de propaganda e uma bermuda suja na lateral , tinha as mãos trêmulas e disse que sua vida estava acabada, que queria morrer, foi despejando tudo assim sem cerimônia, como se eu fosse o seu confessor, ou alguma espécie de salvador, desprevenido não sabia o que fazer, senti uma arrepio quando ele tocou no meu ombro e disse:
-Isabel quer o divorcio.
Carlos realmente amava a esposa, acho que os problemas conjugais começaram quando ele perdeu o emprego no ano passado e desde então só bebe e reclama.
-Foi injustiça os filhos da mãe me demitiram e colocaram o parente de alguém no meu lugar, logo eu com tanta experiência em contabilidade, me pagaram os direitos e lançaram na rua, com quatro filhos duas delas em faculdade particular.
Segurei a mão dele e refleti.
Eu ainda tinha trabalho, esposa , e uma filha para cuidar, dormia e acordava com medo do que aconteceu com Carlos, e se de uma hora para outra acontecesse comigo? Sofria muitas humilhações no trabalho, perdia noites trabalhando extra , nunca conseguia ir a academia , olhava as vezes para a janela da minha casa e sentia um medo tão grande que preferia que tudo acabasse logo.
-Vou ter que voltar a morar com a minha mãe – ele fez um gesto em direção ao meu bolso – tem um cigarro?
-Parei – disse.
Ele chorou, lágrimas amargas, de um homem transformado em uma trapo.
Sinceramente a única coisa que eu queria era ir embora dali e deixar Carlos e a dor dele, porque miséria e dor quando se divide aumenta.