Tatá na Jaguaribe 11

Retornaram à portaria do Hospital. Niquéias e Estevão, pais de Bibi e de Anunciata, Junqueira e Lucas, pais de Tatá e Andreata, moravam em outro estado, estavam na recepção, não haviam chegado a tempo para a visita.

Atualizaram os acontecimentos aos retardatários, se regozijaram, renovaram as esperanças na melhora do Sr. Benito.

Andenunciata se dirige até o carro onde havia deixado na noite anterior, tinha passado mais de dezoito horas. Não encontra o veículo estacionado, volta para a portaria estarrecida, com olheiras pela noite em claro passada.

Diz à Tatá:

__Prima, o carro não está estacionado onde deixei. Roubaram o carro.

O carro foi financiamento por Tatá, em parceria com Anunciata no pagamento das despesas e manutenção. A prima, que era a motorista, o utilizava, e também conduzia Tatá aos médicos e fisioterapia quando carecia.

Recorda desolada que não pôde deixar o carro no estacionamento pago na noite anterior porque não tinha dinheiro. A área do estacionamento livre era distante da entrada do Hospital para visitas, com mais de quinhentos metros de percurso, repleta de escadas e rampas para descer e subir.

Estar apressada para acompanhar o avô, e pelo fato de ter que deixar o carro próximo a entrada, caso fosse necessário levar Tatá de volta para casa, e a vaga de estacionamento próprio para cadeirante não existia próxima a entrada, o que levou Anunciata não observar o fato de que estacionava em local proibido. O estado de necessidade a obrigou assim preceder.

Até aquela data não tinham liberado o acesso para que Andeata colocasse o carro no estacionamento privativo para funcionários no interior do Hospital, local que tinha a vaga para veículos com deficiência. Foram os motivos que no extremo do momento, levou Anunciata deixar o carro próximo a entrada do Hospital.

Saindo na calçada externa, Andreata veio saber pelo funcionário da portaria, que o carro havia sido guinchado pelo Órgão Púbico Fiscalizador de Trânsito, depois de ter recebido denuncia. Estava estacionado em local proibido.

Logo no final da tarde, retorna Bibi para visita última ao avô, confirmando que horas antes o avô tinha retomado o caminho de volta para o mundo. Conversou com a neta, somente não movimentava as pernas, apresentando um certo grau de confusão. Sintoma típico de quem estava internado há muitos dias.

Foi necessário se submeterem à burocracia, despenderem tempo e dinheiro para retirar o carro do estacionamento, que estava no prédio do Órgão Fiscalizador.

Tatá e Anunciata chegam a repartição pública. Foram levadas pelo carona até o local. Na recepção, a funcionária adianta, dizendo que não teria como Tatá chegar ao estacionamento onde o carro estava para fazer a constatação e retirada dele, que seria pela prima, porque não tinha acessibilidade.

O máximo que poderia fazer era ir até ao final do corredor, e aguardar o funcionário levar o termo de retirada para assinar.

O constrangimento havia sido calejado no subjetivo de Tatá, se não fosse a compaixão pela humanidade, e a presença das boas lembranças de manifestação de civilidade e solidariedade de muitas pessoas pelas quais passaram na vida dela na condição de cadeirante, a paz se esvaia do coração e mente.

Manteve a sobriedade ao final do corredor enquanto Anunciata dirigia até o guichê para chamar o funcionário a ir até a prima.

Neste instante, ouvindo o barulho dos carros que entravam e saiam do estacionamento, sente algo quente e aquoso cair sobre seus braços. A vista não foi da melhores, parecia fezes de pombo.

Olhou para cima, um pombinho descansava na comunheira logo abaixo do telhado que cobria o espaço. A avezinha balançou as penas, havia acabado de defecar.

Passa uma senhora um pouco apressada, Tatá, aflita, pede ajuda a mulher, mantém desapercebida. Ao certo estava envolvida com problemas de trânsito.

Se Deus não permite os acontecimentos na vida dos mortais, dá luz ao discernimento dos homens para encontrar meios de se safar dos problemas. Tatá respira fundo, lembra que tinha álcool em gel 70% na bolsa, e dois absorventes íntimos feminino na bolsa. Foi a solução encontrada para limpar as fezes dos braços.

Terminando de fazer a limpeza, chega Anunciata e o funcionário para a assinatura do termo por Tatá.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 07/12/2018
Código do texto: T6521110
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