A Dona Luzia.

Dona Luzia estrou em minha casa pela porta da frente, deixou a bolsa e o molho de chaves em cima do móvel ao lado da porta e foi direto para a sala, ao longo do caminho ela já ia arrumando um objeto aqui, outro objeto acolá, ajeitando um quadro que vive inclinado, chego a pensar que a posição do quadro deveria ser aquela mesma.

Dona Luzia para ao pé da porta da sala e olha em volta, suspirou e voltou em direção ao armário com os utensílios de limpeza; atravessou a cozinha, algumas louças em cima da pia, um, ou dois copos em cima da mesa, um sujo de café e o outro usei para beber água mesmo; ela já conhecia os meus costumes e depois de reclamar destes copos umas cinquenta vezes, desistiu e deixou estar.

Pegou um aspirador de pó, rodo, um pano de

chão e um balde, ela não estranhou o fato de não ter me visto, pela hora que ela chegou, eu poderia estar dormindo, ou mesmo ter saído sem avisar, justamente por isso que fiz questão de deixar uma chave com ela; sempre confiei nela.

Ela se deu o direito de antes de começar o batente mesmo, sentar e tomar um copo com um pingado bem clarinho, não posso dizer qualquer coisa, apenas que eu faria o mesmo.

Quinze minutos depois ela se levantou e achou por bem começar a faxina pela sala.

Ela faz o trabalho rapidamente, aspira e recolhe tudo o que encontra, depois de determinado tempo trabalhando para mim, fica difícil se surpreender comigo, volta e meia ela encontra cueca jogada por aí, calcinhas esquecidas por “amigas”, camisinhas usadas, latinhas e garrafas de bebida e afins, ela vem somente duas vezes na semana, eu tenho tempo o suficiente para fazer as minhas bagunças. Ela não liga muito.

Fato é que até ela já participou uma vez, é uma coroa enxuta e boa de cama, eu gostei muito e acho que ela também gostou, dei até um bom dinheiro a mais no pagamento, como forma de agradecimento, mas, agora isso não vem ao caso.

Lá pelas onze da manhã, ela já havia terminado sala e cozinha, por fim decidiu ir ao meu quarto, até porque como eu não tinha dado as caras até aquele momento, muito provavelmente eu tinha saído cedo, sendo assim, com as “ferramentas” em mãos, foi até o meu quarto e abriu a porta, para a surpresa e choque dela, ela me encontrou pelado no chão, envolvido por uma poça de sangue e com uma chave de fenda grande, que aliás, era a minha chave de fenda, enfiada na minha nuca. Dona

Luzia ficou atônita por um momento, até que largou todo o material de limpeza e correr para ligar para a polícia.

Bem, esse foi mais ou menos o depoimento que ela apresentou para a policia quando os homens chegaram.

Pouco tempo depois, graças as investigações da polícia, descobriram que o meu algoz, na verdade foi a minha algoz, dona Luzia; morrer sem saber o motivo de se estar morrendo é uma falta de consideração fodida, mas, foi ela, ao tentar cumprir o mandado de prisão dela, descobriu-se também que ela viajou as pressas para o Paraguai e não haviam mais notícias.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 13/12/2018
Reeditado em 07/09/2020
Código do texto: T6526415
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