ÚLTIMO RECURSO

O Dijenilton tinha mais ou menos uns 70 anos de idade, baixa estatura, cabelo escuros, pintados, pele clara e bom de briga. Alguns moradores daquele bairro evitavam arrumar encrenca com ele, pois por qualquer coisa Dijenilton explodia e não deixava nada pra depois. Ele era o dono da principal mercearia do local. Dijenilton era nervoso por natureza e ficava ainda mais irritado quando alguém metia olho na sua mulher, a Consuelo, mulata de 23 anos e de formas perfeitas. Ela deixava os marmanjos do bairro de boca aberta. Dijenilton chamava no braço aquele que olhasse para a Consuelo ou então xingava o indivíduo de tudo o quanto era nome. Até os moleques não escapavam, Dijenilton jogava tinta vermelha neles quando faziam gracinhas com Consuelo. Dijenilton e a mulata chamavam muita atenção. Ele era baixinho e Consuelo por ser alta e corpulenta, dava um ar de desproporcionalidade ao casal. Dijenilton fazia questão de andar bem grudadinho com ela e quando alguém olhava, ele a beijava como que dizendo: ela é toda minha! Consuelo ficava na mercearia durante parte da manhã. Naquele período entrava muitos marmanjos querendo comprar uma caixa de fósforos, um ovo, uma laranja... De quando em vez, Dijenilton chegava de surpresa e botava pra correr aqueles que ficavam na porta da mercearia, disfarçando, fingindo que não estavam olhando para Consuelo. Ai daquele que ousasse chegar perto de sua mulata! Se durante o dia Dijenilton a protegia, a noite era um tormento para ele. Consuelo esperava, esperava, esperava... mas só vinha a decepção. Dijenilton não procurava um médico, por vergonha e machismo. Nem tomar um remédio estimulante ele queria. Dijenilton tentava provar que era o bom, mas o que se via de bom mesmo era a paciência de Consuelo. Ela procurava deixá-lo bastante relaxado, bem à vontade. Raramente ele conseguia ter uma noite normal, mesmo assim com muita dificuldade, algo que o estressava completamente. Consuelo nunca deixou de ajudá-lo, ela tinha seus métodos, truques... mas a situação era difícil. Dijenilton insistia em não procurar auxílio, mas certa vez ele não quis saber de blá blá blá e prometeu a Consuelo uma noite inesquecível. “É agora ou nunca!” Dizia ele. Dijenilton disse que não iria decepcionar naquela noite; ele até foi embora pra casa mais cedo. No dia seguinte, a mercearia de Dijenilton não abriu e todo o bairro queria saber o motivo. Lá pelo final da manhã, descobriram que ele havia sofrido uma parada cardíaca e estava internado em um hospital próximo. A notícia deixou todo mundo preocupado e muitos torciam por sua recuperação. Dijenilton ficou alguns dias internado e quando recebeu alta o médico lhe recomendou que não fizesse esforço em hipótese alguma e que ficasse de repouso o máximo que pudesse. Naquele período, Consuelo ficava na mercearia na maior parte do dia. A macharada aproveitava para ir até o estabelecimento comprar uma caixa de fósforos, uma laranja, um ovo... Até que um dia Dijenilton teve a ideia de colocar uma cama atrás do balcão, para que ninguém o visse. Só a mulher dele. Quando algum macho entrava na mercearia e se atrevia fazer gracinhas com Consuelo, Dijenilton aparecia por detrás do balcão e botava o sujeito pra correr. Consuelo ficava preocupada e pedia para que ele ficasse calmo. Dijenilton, deitado na cama atrás do balcão, ficava olhando para o belo traseiro de Consuelo e ainda tinha esperança de ter aquela noite que sempre prometera. Mas lembrava-se de que tinha que manter a calma e repousar. Dijenilton, então, ficou calminho, calminho. Não brigava mais com ninguém. O fato é que depois que ele ficou mais calmo, os machos pararam de galantear Consuelo. Ninguém mais metia o olho na mulata.

Alveres
Enviado por Alveres em 15/12/2018
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