Angústia III
Para entender melhor essa crônica leia Angústia II
Joaquim, o pipoqueiro, de repente olha pra cima e algo lhe chama a atenção. Há uma pessoa, um homem, em atitude suspeita olhando de um lado para outro na sacada do prédio em frente de onde ele está. Joaquim fica aflito.
- Manoel? Ei, Manoel?! - chama o homem do bar próximo dalí.
- O que foi, homem? por que gritas tanto?
- Lá em cima, olhe! - aponta para o décimo andar do prédio - o que lhe parece? aquele homem não parece estar normal.
- O, pá! Minha Nossa Senhora das Dores, será que estamos a pensaire a mesma coisa?
- Eu não sei, tenho medo do que estou pensando, Manoel, mas não me parece coisa boa. Ele parece aflito.
- O que vocês tanto olham pra cima? - chega Antonio, o porteiro do prédio em frente, perguntando.
- Lá em cima, veja - levanta o dedo indicador mostrando exatamente o local - Estou a ficaire preocupado. Veja como aquele homem está a reagire!
- Minha nossa, ele anda de um lado para o outro, põe a mão na cabeça depois para. Será que está querendo fazer alguma coisa ruim?
- É o que acho - diz Joaquim
- Vamos chamaire a polícia? - Manoel está nervoso.
- Não, acho melhor não, isso pode piorar as coisas - diz Joaquim - podemos fazer o seguinte: por que não subimos até lá, descobrimos qual apartamento e apertamos a campainha.
- Boa ideia - conclui Antonio - só que eu não posso sair da portaria do meu prédio. Não vou poder ajudar.
- Vamos lá então, Manoel! - E vão em direção ao prédio em frente descobrir qual o andar daquele homem.
Falam com o recepcionista explicando o que está acontecendo e todos sobem, preocupados.
- Com certeza é este o apartamento - diz o recepcionista com as chaves nas mãos mas acha melhor apertar a campainha. Tentar abrir a porta poderia assustar ainda mais o rapaz. A campainha pelo menos chamaria sua atenção e ele sairia daquela zona de perigo, conforme eles pensavam.
Apertam várias vezes a campainha e nada. Depois de um breve tempo, preocupado, o recepcionista acha melhor abrir a porta. Abre bem devagar e entram. Da entrada dá pra ver a janela e a sacada. Ninguém lá.
- O, pá! Minha Nossa Senhora da Queropita, ele pulou! - grita Manoel.
Caminham bem devagar, os corações a mil. Chegam sorrateiramente até a sacada. Olham para os lados e nada. Temem olhar para baixo e virem uma tragédia. Da sacada tentando não olhar para baixo olham para os lados. Na outra sacada, no apartamento ao lado está o homem a quem procuravam. Salvos pelo gongo. Pelo menos até aquele momento.
- S... senhor... o senhor está bem? Está passando mal?
Soluçando o homem diz: eu só quero a minha mulher de volta. Não tem mais sentido a minha vida!
- Sen... Senhor... espere aí, já já estamos indo aí. Não saia daí - diz Joaquim.
- Manoel, desça e chame uma ambulância que eu vou lá conversar com ele. - Senhor - olhando para o rapaz - Vá até sua porta e abra, por favor, sua esposa está aqui - faz isso pra dissuadí-lo. Corre até o apartamento onde está aquele homem e já o encontra na porta.
- Cadê minha mulher? Preciso falar com ela...
- Calma que ela já vem, está lá embaixo. Vamos sentar e conversar um pouco. - Pega uma água e lhe dá. - isso, assim está melhor. Vamos conversar. Vou fechar a janela está bem? Não saia daqui!
- Eu... eu estou melhor... mas preciso falar com minha esposa, preciso me desculpar.
- Como eu disse, ela já vem, está lá embaixo. Me conte o que está havendo?
E conversam, conversam... O recepcionista começa contar sua história também para que assim ganhe tempo.
Após alguns minutos que pareceram longos chegam dois enfermeiros para atenderem aquele sofrido homem..
- Minha mulher... cadê minha mulher? O senhor mentiu pra mim!!! - sai carregado pelos enfermeiros.
- Eu não menti. Ela irá falar com o senhor. Mas e agora?? Como conversar com a mulher? Bom, pelo menos uma vida conseguimos salvar.
- Seu Paulo, o que faz meu apartamento aberto? pergunta uma senhora acabando de chegar.
-Ah, Dona Marilda, nem queira saber da história. Ufff!! - põe a mão no peito arfante.