11 de fevereiro um dia de chuva
o ar estava gelado naquela noite de verão. e a chuva batia violentamente contra as paredes e as janelas. apenas um filete de luz iluminava o quarto. paredes pálidas repletas de escritos que um dia fizeram sentido para a pequena habitante daquele quarto. não tem muito o que descrever sobre sua aparência, pode-se resumir em uma magreza sem fim, olhos fundos e confusos em boa parte do tempo.
por horas a fio a garota observou as paredes e as sombras que se projetavam pelo pequeno lance de luz.
lembrou-se de quando era pequena e se escondia por baixo das cobertas quando tinha medo na noite. naquele quartinho escuro aos fundos da casa, seu quarto vivia sem luz. e por algum motivo a lâmpada sempre queimava com apenas alguns dias de uso. depois de um tempo as lâmpadas pararam de ser compradas e o quarto viva na penumbra.
agora o escuro era confortável. e a solidão um tanto acolhedora. o tempo ensinou que pessoas são pouco confiáveis e que é do intuito humano demonstrar menos sentimentos como um mecanismo de defesa.
mecanismo que a moça desconhecia desde pequena.
sentia um aperto forte no coração. como se houvesse uma mão invisível apertando incessantemente. e os olhos repleto de lágrimas que insistiam em escorrer pelo olhos sem sequer compreender o motivo real de tudo aquilo.
tinha pés cansados, mas ainda jovem. e um bolo se formava na garganta. tentava uma auto-avaliação falsa e errônea. como pode um ser humano se auto-avaliar? humanos têm muitas dificuldades em compreender os próprios erros.
e ali, naquele quarto escuro, com a chuva espancando todas as paredes da casa e as janelas e os paralelepipedos da rua. a garota listou seus problemas mais visíveis.
confusão, dificuldade de compreender a si própria e aos próximos, desconfiança até mesmo de seus pensamentos. horas se passaram e o relógio deveria marcar quase uma da manhã. mas a garota não quis tocar no pequeno aparelho telefônico.
e ali continuou listando os erros e mais erros olhando para o teto. em algum momento no meio dessa listagem a garota de olhos escuros caiu no sono. um sono pesado e confuso como ela mesma.
a chuva continuou incessante naquela cidade de florianópolis.