É na curva que o motorista se revela

É na curva que o motorista se revela

Não havia naquela cidadezinha, quem não conhecesse Maria e Paulo. Formavam um casal maravilhoso. Todos torciam muito pela felicidade de ambos. E também para que casassem e fossem embora daquele lugar. Parece estranho, contudo, uma verdade.

O motivo para tal ambiguidade, no transito eram um perigo. Maria era míope e tinha um alto grau de astigmáticos. Paulo era daltônico. Quando saiam de carro, havia até um grupo na rede social, para que as pessoas evitassem aquelas ruas que eles trafegavam. Quando um dirigia, o outro servia de “copiloto”. Quantas vezes Maria falava, Paulo o sinal abriu ou, Paulo pare o sinal vai ficar verde. O mesmo acontecia com Maria, ela dirigindo e ele falava; - ei, cuidado, é um caminhão que esta em nossa direção, Maria por conta de seu astigmatismo, não sabia direito o que estava na estrada. Logo, sempre tirava tinta dos outros.

As pessoas alertavam os dois e mantinham uma distância segura, porém, os sustos eram frequentes. E a noite a coisa piora, não viam muita coisa. E cidade de interior, quando há alguma coisa para ser feita, só em final de semana. E bailes, a melhor pedida. Muito comuns naquela região.

A comunidade se reúne e passa a noite se divertindo. Todos dançam muito, alguns saem do chão com umas cervejas a mais. Porém, Maria e Paulo não eram de beber, sabiam de suas limitações e as consequências que isto poderia causar. E aquela noite não foi diferente.

Dançaram muito como sempre fizeram, eram fãs de músicas gauchescas. Maria um pé de valsa de se tirar o chapéu, Paulo era um Baryshnikov, Maria flutuava em seus braços. As pessoas paravam para vê los dançar. E a noite terminou como de costume, todos felizes e recuperados da semana “puxada” de sempre.

O baile acabou, porém, Maria, Paulo e alguns amigos, resolveram conversar um pouco mais. Neste momento, Luís, um primo solteiro de Maria, daqueles cachaceiros do pé inchado falou; - ei, vocês viram que haverá um rali para casais aqui na cidade? Ninguém ouviu falar sobre o acontecimento, contudo, percebendo o interesse de todos, não perdeu a oportunidade e cutucou; - mas fiquei sabendo que haverá um teste de visão, dependendo do resultado, não é qualquer um que pode participar.

Todos riram, já sabiam para quem foi à piadinha. Paulo e Maria também deram risadas, afinal, era uma verdade. E Maria para não deixar barato, espetou; - que eles também não façam teste de bafômetro, se acontecer, você também não entra. Foi uma festa só.

No caminho para casa, Paulo dirigia, - pois Maria não enxergava bem à noite, por conta das luzes de outros carros - disse; - bela (era um tratamento carinhoso que tinha com Maria), que tal participarmos deste rali? De pronto Maria respondeu; - eu adoraria e seria uma forma de mostrar as pessoas, que não somos ruins de volante. Paulo parou o carro em frente à casa de Maria, se despediram e mais tarde conversariam sobre o assunto.

No almoço em família, tradicional aquela região, estavam à mesa, Maria e seus pais, Paulo, Luís (de ressaca), Carolina e Isadora, sobrinhas de Paulo e mana, irmã de Maria, e sua família.

As conversas giravam sobre a nova namorada de Luís, uma menina muito bonita. O pai de Maria quis saber; - Luís, por que sua namorada não está conosco? Ele não queria falar, sua cabeça doía, de ressaca claro, contudo, uma hora todos saberiam, para que adiar, então disse; - havíamos combinado de ir ao baile ontem, mas sexta sai, tomei umas a mais e cheguei em casa umas três da manhã. Nem olhei o celular, tinha dez ligações de Gabriela. Fez uma pausa e continuou; - era aniversario da mãe dela, teria uma janta, os pais vieram da capital e eu esqueci, fui tomar umas depois do futebol. Todos riam, então finalizou; - quando acordei ontem, após o meio dia, vendo as ligações, havia uma mensagem e uma foto, ela estava indo com seus pais morar na capital. E Maria para sacanear disse, - é a terceira que escapa nestes últimos dias, Paulo aproveitou e disse; - vê por que bebe? E arrematou, - para esquecer os compromissos com as namoradas. Riram e Luís foi gentil ao fazer um sinal com o dedo, a Paulo e Maria.

Passado o almoço, Paulo, Maria e Luís, começaram a falar sobre o rali. Ambos estavam interessados em participar. Então começaram a pesquisar sobre a prova. Parecia simples, um casal, o terreno seria fácil, para iniciantes. Aos participantes seria dado mapas, sem muitas dificuldade, com poucas exigências, era na verdade apenas uma brincadeira saudável.

Porém havia um pequeno problema, Luís estava solteiro e precisava de uma companhia. Quem chamar? Como estava em uma fase ruim para mulheres, todas as que ele chamou se negaram a ir. As desculpas eram de todas as direções possíveis, não, você vai beber e isso será perigoso, outra disse que não tinha boas lembranças dele dirigindo, uma amiga mais sincera disse, poxa , você é um rapaz bonito, inteligente, tem um dom maravilhoso, “faz garrafadas”, “benzimentos”, porque não fica mais em casa, leva uma vida séria e para com essas noitadas. Luís nem esperou sua resposta, foi embora bravo.

E hoje era o último dia para a inscrição, se não arrumar uma companhia, não iria participar. Já era quase seis da tarde, e viu que não havia o que fazer. Estava até aceitando a ideia de não correr no rali, quando entra em sua casa, Magali, uma menina delicada, que na identidade era João Magalhães. Porém, como não tinha qualquer preconceito e Magali/João era uma pessoa culta, seria um ótimo navegador. Expôs sua ideia e Magali/João, aceitou sem hesitar. Luís saiu correndo e fez a inscrição, como não era exigido carteira de identidade, apenas o nome, os responsáveis pela inscrição do “casal”, não questionaram nada.

E chega o dia da corrida, todos a postos em seus carros e a largada foi dada, a cada dois minutos sai um competidor. Luís disse a direção de prova, que chegaria em cima da hora, pois seu carro precisou de última hora de um reparo. Nada foi questionado e na hora exata, chega o “último casal” e saem conforme o programado.

“Lá pelas tantas”, na estrada, Maria e Paulo que largaram na frente, mantinham um ritmo muito bom. Maria era matemática, então, uma excelente navegadora. Porém, ao chegarem a uma bifurcação, havia uma placa amarela que indicava a entrada de uma fazenda. Sabendo da dificuldade de Paulo, com as cores, Maria disse; - a trezentos metros entre a direita na placa. Porém, não era trezentos metros e sim oitocentos metros e míope, Maria não percebeu o erro. E Paulo, sentou a pua.

Neste instante, a poucos quilômetros, Luís e Magali/João faziam uma corrida interessante, segundo os cálculos, estavam muito bem obrigado. E a navegadora disse ao piloto; - a quinhentos curva fechada a direita, com quarenta e cinco graus, quer dizer, Luís teria que frear forte para diminuir a velocidade e então fazer a curva. Fez tudo como um bom piloto, porém o competidor que passou antes, errou e bateu o carro. Não foi nada de mais, sem machucados, mas atrapalhou a direção de Luís.

E o fato marcou o rali, neste momento descobriram de forma acidental, quem era seu navegador. Na verdade, quem descobriu foi o pai de Maria. Ele era o responsável por um posto de conferência, onde os participantes passavam e seu tempo era anotado. Depois era feita a somatória, com outros pontos e a melhor média, seria o do campeão.

Quando viu Luís se aproximando da curva, o pai de Maria resolveu bater uma foto. Lembrança do momento, que tragédia. No exato momento que bateu a foto, Luís viu o carro adversário e precisou desviar, nisto, Magali/João se desequilibrou e caiu em seu colo, parecia de boca no cambio de Luís.

Foi tudo um acidente de percurso, eles nem perceberam isto, contudo, o pai de Maria ficou abismados, será que Luís não tinha namorada fixa, por que gostava de... meninos?

Aquilo seria uma vergonha para a família, contudo, a fotografia era incontestável. Tudo bem pensou, precisamos aceitar o mundo como ele é. Entretanto, ele não via isto como normal e agora, como lidar com a situação? Iria falar com Luís pessoalmente.

Por fim, às quatro da tarde como o esperado, o rali acabou. Luís e seu navegador foram dados como campeões. Fizeram um tempo incontestável. Na hora de agradecer aos organizadores pelo premio, Luís falou que como não conseguiu uma mulher para compor o casal, e teve a ideia de chamar Magali/João. Foi aplaudido por todos, afinal, preconceito é algo que não cabe nos dias de hoje.

O pai de Maria chamou o para um canto e disse; - você poderia explicar esta foto? E Luís começou a gaguejar; - tio, foi um acidente, eu gosto de mulher e por mais meia hora, ficou justificando o incidente. Dizem que depois deste acontecido, Luís tomou jeito de gente seria.

O pai de Maria, ficou tão decepcionado com seu sobrinho, que não deu por falta da filha naquele momento. Ela estava nos braços de Paulo, quando perceberam que haviam errado o caminho, começou a chover e a coisa que estava ruim, piorou. A estrada acabava em um rio, atolaram o carro e não tinha como sair. Precisariam passar a noite naquele lugar lindo, porém, segundo moradores da região, mal assombrado.

Dizem que uma noiva cometeu suicido, ao se jogar de uma cachoeira e morreu afogada. Mas em noites de lua cheia, ela sempre aparecia para assombrar as pessoas.

E a lua cheia era de tirar o fôlego, pela beleza, ou por conta da noiva.

Paulo Cesar

Paulo Cesar Santos
Enviado por Paulo Cesar Santos em 28/02/2019
Reeditado em 02/03/2019
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