VAQUEIRO BRUXO

Quando terminava à ordenha das vacas, vinha a melhor parte, Zé Campos colocava todas pra fora do cural, e o gado seguia lentamente pela estrada, não se tinha à menor pressa, eles iam no passo lento, geralmente comandado por uma com maior orientação, porque tinha umas malucas e de todo tipo. Eu e ele íamos nos cavalos, ele no cavalo de campo ( cavalo de campo era um cavalo especial, que se formava na lida com o gado, sabia tanger os mesmo e na mata era muito útil para pegar boi fujão, desviando-se dos galhos, pulando lajeiros e passando por todo tipo de adversidades possíveis oriundo dessa situação), o cavalo de Zé Campos era castanho e o meu tordilho, o dele não tinha nome, o meu era Maribondo. Eu era pequeno e para subir no mesmo me agarrava na crina e pulava em cima da sela. Meus pés não alcançavam os estribos, por esse motivo enfiava os pés dentro das tiras de couro que seguravam os estribos. Zé Campos sempre reclamava quando eu enfiava o pé muito, ai ele dizia..

-- ei, não enfie o pé muito não que é perigosos, coloque só as pontinhas dos dedos.

Lógico que eu obedecia tudo que ele falava.

Quando ia passar numa porteira ele mandava eu me abaixar, por causa do arame farpado, eu deitava em cima do cavalo, me agarrava no pescoço e passava. Vez por outra era usava a espora e fazia algum comando mais rápido,por causa de algum problema que aparecia. Eu e ele tínhamos um relacionamento estritamente formal, com poucas palavras, ele só falava comigo o necessário, e eu por sua vez não falava muito para não perturbar o trabalho dele e ser vetado pelo mesmo. Quando ele mandava eu descer, eu descia, quando mandava eu beber água eu bebia, ficar na sombra eu ficava, e por ai vai. O que mais me lembro nele era o olhar, o seu olhar não era naquele momento, ele sempre olhava com olhar de futuro, como sabendo o que fosse acontecer daqui à meia hora. Talvez fosse um vaqueiro bruxo, quem sabe né?

VAQUEIRO BRUXO

FRED COELHO / 2018