O menino e o beija flor

Como em tantos domingos à tarde nos últimos anos, estávamos as crianças e eu na escola, ocupando os espaços para atividades esportivas e lazer. No longo corredor ouvíamos um farfalhar aflito de pequenas asas. No início não prestei a devida atenção, até que alguns meninos também ouviram e correram me contar, era um pequeno beija flor que desesperado se batia nas janelas de vidro tentando sair. O pobre passarinho já estava exausto, sem forças para continuar e lentamente foi caindo até chegar ao chão. Falei para os meninos que juntassem o bichinho. Fiquei observando um tanto apreensiva enquanto um deles o apanhava delicadamente em suas pequenas mãos. Trouxe-o e cuidadosamente largou-o em minhas mãos e pediu com olhos suplicantes para que eu o salvasse. Era um beija flor com lindas e pequeninas penas verdes brilhantes e biquinho vermelho. Senti coraçãozinho acelerado e ele então piou em pânico pedindo socorro. Sem saber bem o que fazer, levei-o até uma torneira, sempre acompanhada dos meninos e pinguei uma gotinha de água em sua cabeça, escorreu pelo bico e ele bebeu a gotinha com vontade.

Segurei-o ainda um pouco e era visível que ele estava se reanimando no aconchego de minhas mãos em concha. O menino não saia de perto, acompanhando tudo, vi o brilho nos seus olhos de criança já tão sofrida, marcada pela violência e abandono e pensei que seria uma boa oportunidade para mostrar a ele que era capaz de coisas boas e belos gestos. Então disse que ele levava jeito para cuidar de passarinhos e que quem salvava um beija flor teria muita sorte na vida. Então os outros falaram que também ajudaram no salvamento, o que concordei e disse que também teriam sorte. Então nos dirigimos a o pátio arborizado da escola para soltar o pequeno pássaro que já se mostrava refeito. O menino salvador falava que era para soltá-lo em uma linda flor vermelha que ele ia gostar muito, pois sempre via beija flores por ali. Então nos encaminhamos até o pé de flor e devagarinho fui abrindo as mãos e o beija flor se aprumou um momento, parou mais um pouquinho e finalmente abriu suas lindas asas e voou brilhante no sol da tarde. Os meninos aplaudiram felizes e seus olhos brilhavam mais que os raios de sol.