A CASA DA TIA MARIA

Bem vindos à casa da tia Maria!

Esse portão marrom não tinha cadeado. Não precisava. Viu só o tamanho desse quintal? A casa fica lá no fundo. Eu brincava nesse gramado, que no casamento da Fany foi todo cimentado, mas depois voltou a ser gramado, andava de bicicleta em torno dele, tirava laranja do pé. Sente só o perfume! Eu nunca me esqueci.

Aqui não tinha outra criança para eu brincar, mas eu fazia questão de passar as minhas férias com a tia Maria, o tio Zé e minhas primas, Célia e Fany. Brincava sozinho. Subia no portão, passava para o muro e com um pé sempre a frente do outro ia andando, me equilibrando até o fundo do quintal. O Duque latia o tempo todo, enquanto o papagaio gritava e os periquitos faziam barulho nas gaiolas. Eu achava graça no Duque me seguindo, mas continuava até o fim do muro, depois pegava impulso e subia na laje da casa.

A tarde minhas primas chegavam do trabalho e eu contava tudo o que eu tinha feito durante o dia, desde o banho que era obrigado pela tia Maria a tomar às onze da manhã até a dúzia de laranja que eu e a tia chupávamos no quintal após o almoço. Bife com batata frita que a tia Maria cozinha como ninguém.

Na hora de dormir era na sala com as minhas primas. Elas no sofá e eu em uma cama de molas de abrir e fechar. A Célia ficava doida de raiva, pois a cama era dela, mas quem mandava na casa era a tia Maria.

A casa era pequena. Sala, quarto e cozinha. Ainda é. Mas a laje não existe mais. A Célia casou e construiu a casa dela ali. O jardim hoje diminuiu, pois agora tem garagem. O portão tem cadeado e o muro é bem alto. Não da mais para subir e andar feito equilibrista.

A casa era amarela e o portão marrom. Hoje não sei quais são as cores, mas estas não me saíram da memória. O Duque não existe mais, assim como os passarinhos e o papagaio.

Na casa da tia Maria eu passei grande parte da minha infância e adolescência e apesar da saudade faz tempo que não vou lá. Na casa da tia Maria eu sempre me sentia e acho que até hoje ainda sinto que era como se eu estivesse na minha própria casa.

Marcelo Monthesi
Enviado por Marcelo Monthesi em 25/04/2019
Código do texto: T6632492
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