ESSAS INVENÇÕES DO CAPITALISMO

Que raios de máquina era aquela, cheia de botões, com um teclado estranho e uma televisão que não exibia filmes, mas só programas esquisitos? Apertou um botão e na tela apareceu a mensagem "comando inválido". Que comando era esse, se apenas tocara de leve o teclado e não acionara comando algum? Além de estranha, essa máquina era doida.

Ficava observando o filho mexer no teclado, ao mesmo tempo em que na tela apareciam imagens surpreendentes, como as que já vira na TV (aquela geringonça não era uma TV, disso ele tinha certeza!). Talvez fosse uma dessas modernices que todos os dias nos empurram goela abaixo, mais um produto desse capitalismo selvagem que nos come pelo pé.

Ontem, o filho fora buscá-lo no asilo, onde o internara quinze anos atrás. Foi um alívio. Nem televisão tinha naquele lugar, a não ser quando passava um jogo da seleção e o diretor trazia uma portátil branco-e-preto – e isso apenas na Copa do Mundo. O filho, sem entrar muito em detalhes, disse que agora as coisas melhoraram e ele poderia morar em casa.

Era difícil se acostumar com todas as mudanças que aconteceram cá fora nesses anos todos.

Estranhos seres piscavam na tela, agora sem operador, já que o filho fora dormir. Sentou-se em frente àquela coisa brilhante e, durante alguns minutos, ficou assistindo. Nunca vira nada parecido: figuras bizarras, com jeito de extraterrestres, porém incrivelmente humanas, como se seus corpos tivessem sido reciclados por algum efeito desconhecido.

Teclou o botão onde se lia "enter" e tudo mudou na tela. Ao invés daqueles seres estranhos, surgiram desenhos multicoloridos, fotografias e outras imagens delirantes, que ele só vira em sonhos. Apertou outra tecla, parece que estava escrito "esc" (que nome estranho!); e de repente tudo sumiu.

Teclou outros botões, porém no visor só aparecia a mensagem "comando inválido". Que fizera na máquina? E se o filho descobrisse que ele estragara aquela geringonça, a sua preferida? Será que o mandaria de volta ao asilo?

No monitor, por sobre um fundo preto (seria o espaço sideral?), em frente da letra C:, piscava intermitentemente um tracinho.