O dia que saiu de casa

Um dia tomara com muito custo a decisão já a muito tempo acalentada. Saíra de casa e estava agora sozinho naquela estrada que parecia jamais acabar. Fora embora ao raiar do dia, todos dormindo. Com um olhar despedira-se do irmãozinho. Estrada longa, muita poeira, a cada passo uma dor nos pés. Caminhões passavam produzindo sons cada vez mais assustadores para seu ouvidos de adolescente de apenas treze anos de idade. A noite se aproximava rápido, com o restinho de sol aparecendo na linha do horizonte. Sabia que precisava continuar caminhando e não deixar que o medo quebrasse sua vontade de se aventurar no mundo.

De repente a imagem de uma pequena construção apenas um pouco recuada da estrada chama sua atenção. Havia alguns carros parados em frente ao que parecia um restaurante de beira de estrada. Muito bom parar lá para comer e descansar algum tempo gastando um pouco do pouco dinheiro em seu poder, guardado ainda do tempo em que convivera com seu avô, homem duro mas justo, tanto que dera a cada neto uma boa quantia de suas economias de toda uma vida. Agora seria a hora de usar aquele tesouro que guardara desde os dez anos de idade.

Apressa o passo em direção ao restaurante. Súbito, sai apressadamente um homem com uma arma na mão e carregando um pacote debaixo do braço. Percebe aterrorizado que se tratava de um assalto. A cruzar com ele, o homem dirige um olhar penetrante em sua direção e por alguns segundos todo seu corpo permanece petrificado pelo medo. O assaltante em seguida dirigi-se a um dos carros parados. De repente o que parecia ser o dono do restaurante sai atirando. Foi tudo rápido demais. Sente algo terrivelmente quente em seu peito. Turva-se a visão imediatamente. Por um instante, parecia que sua vida apresenta-se freneticamente em sua frente, como num filme. Não entendia o que estava acontecendo, era tudo muito estranho, surge na sua frente a irmanzinha querida deitada em um caixão na sala rodeada de velhas senhoras com terços nas mãos cantando umas músicas lentas e tristes. Não pode ser verdade aquela visão, isso foi a tanto tempo, era ainda um garoto de 8 anos. Como pode estar vendo tudo isso novamente?. Súbito, como mágica, toda a imagem do enterro da irmã desaparece. Agora sente a queda da mangueira em frente a sua casa, também um acontecimento de sua infância, estranho recordar aqueles momentos em que seu corpo cai após o galho ceder ao seu peso. Era uma lembrança quase apagada de sua memória. Por que estava sentido tudo isso novamente?. Volta agora ao presente. O homem correndo para o carro. O dono do restaurante atirando, tudo nebuloso. Sentia frio e uma dor lacerante em seu peito. Seu braço doía, sua mão parecia não obedecer-lhe. O mundo começou a girar, Tudo turvo. Não mais enxergava. Tombara no chão. Morto.

José B. De Menezes Filho

Cabedelo, 12 de maio de 2019