AS ESTRELAS

- Ei! Oh tio!

- Que é, parça?

- Chama os meninos lá pra gente “vê” uma coisa aqui.

Cinco irmãozinhos se reúnem e observam na noite uma cena:

- Mano, olha isso!

- São muito bonitas.

- Tem várias, né?

- Tem sim.

- Olha lá aquela, como brilha.

- Ah, eu poderia ficar olhando pra isso a noite toda.

- Tá ok. São lindas. Mas qual é o nome disso?

- A mãe que sabe.

- Chama ela lá.

- Isso, ela explica um monte de coisa.

- Alguém já percebeu que nossa mãe é mó gatona?

- Ih, fio! Respeita. É sua mãe, oh. Viaja não.

- Uai. Mas eu sô elogiei.

- Tudo bem aí, meninos?

- Mãe, a senhora já viu como a noite tá bonita?

- Sim, meninos. A noite está muito linda hoje. Estão acordados essa hora? Por que me chamaram?

- Mãe, os meninos ficaram olhando pra isso e a gente quer saber o nome daquilo ali.

- Ah, meninos. O nome disso são estrelas.

- Estrelas? – disseram os cinco.

- Sim. Nunca perceberam que sempre que anoitece elas estão lá?

- Mas mãe, elas são bonitas né?

- Sim, filho. São muito bonitas.

- Quem colocou elas lá?

- Deus, menino. Deus que colocou uma a uma pra brilhar.

- IH, olha lá. Parece que tem uma piscando mais fraco.

- É filho. Parece que aquela ali tá meio desanimadinha pra brilhar.

- Mamãe. Estrelas morrem?

- Não é que morrem. Os cientistas chamam de morte. Mas na verdade elas param de brilhar. Eu não vou saber te explicar sem usar ciência.

- Ah. Então morrem, não morrem?

- Morrem, menino. É só ver quando param de brilhar e desaparecem.

- Eita! Vocês viram aquela ali que passou voando?

- Nossa tio!

- Mas que que é isso?

- Gostaram, filhos?

- Oh mãe, aquela estrela voa?

- Não filho. Aquilo é uma estrela cadente.

- Oxe? Como assim?

- Elas passam, deixam um rastro brilhante, mas logo vão embora.

- Mãe, tem uma estrela brilhando bem perto da outra. Parece que forma uma coisa. Não sei explicar.

- Aquilo é chamado de constelação. São uma família de estrelas que juntas formam algo bem bonito. Quero que vocês prestem bastante atenção naquele grupo de estrelas ali. Com o que parece?

- Eu vi um negócio.

- Eu vi um coiso.

- Eu to com fome.

- Pára, meu! Só pensa em comer?

- Eu vi um bagulho.

- Ai ai ai, meninos. Vocês e a imaginação de vocês.

- Ô mãe. E dá pra ver elas de dia?

- Até dá, mas elas brilham mais a noite.

- E de dia?

- De dia elas ainda estão lá. Mas elas foram feitas pra brilhar quando tudo está escurecendo.

- Mãe. Tem uma brilhando sozinha. Tadinha dela. Ela brigou com as outras ou ela não torce pro mesmo time?

- Meu Deus, que imaginação fértil você tem, rapaz. Onde aprendeu isso?

- E por que ela tá sozinha?

- Primeira coisa. Se vocês prestarem atenção, tem muitas estrelas agrupadas. Porém tem muitas outras que brilham sozinhas.

- Por que, mãe?

- Parece que algumas são antissociais, né mãe?

- Nada a ver, tio. As estrelas brigam também. Nem todo mundo te suportaria, por exemplo.

- Oh manhê! Olha ele!

- Se acalmem, meninos. Daqui a pouco o pai de vocês chega e eu quero ver, hein.

- Tá mãe, desculpa a gente. Mas por que elas estão separadas?

- Filhos, vejam bem. Algumas estrelas nascem perto umas das outras. Outras ficam isoladas. Vocês sabe o que é gravidade?

- É quando a senhora engravida hehehe.

- Não bobinho. Bom, pra não entrar em detalhes difíceis, a gravidade pode tanto aproximar estrelas como afasta-las. O importante é que elas não parem de brilhar e deixem a nossa noite sempre linda e iluminada com seu brilho.

- Oh mãe, tenho mais uma...

- Opa meninos, já deu a hora. Vamos que o pai de vocês está chegando e eu tenho que trabalhar.

- O pai só trabalha a noite.

- Ele trabalha sempre. Ele fica aqui com a gente de dia.

- A mãe também.

- Mas a mãe trabalha.

- Ah, mas dá a mãe trabalha perto. O pai não. O pai vai lá longe.

- Meninos, parem de discussão boba. Já passou da hora de dormirem. Vocês tem mais alguma pergunta pra fazer?

- Temos duas, mãe.

- Tá bom. Façam logo e depois todo mundo pra cama.

- As estrelas podem nos ouvir?

- Não, filho.

- Por quê?

- Elas estão muito longe de nós.

- Mas será que elas conversam sobre a gente?

A mãe para aguçar a imaginação dos filhos responde com um brilho no olhar:

- Claro, meninos. Podem ter certeza.

- Elas falam bem?

- Creio que sim.

- Parecem anjos.

- Como são lindas.

- Sem elas a noite seria mó zoada, né?

- Vão pra cama, meninos.

O dia começa a raiar. Antes de dormir, um olha pro outro e diz:

- A mãe já foi?

- Já. O que você quer? Ficamos a noite toda conversando. To com sono.

- Mano, será que dá pra gente chegar perto de uma estrela? Tipo... conversar com uma? Pegar?

- Ah! Só de foguete pra chegar.

- E como sera que elas são de perto?

- Não sei, mano. Como eu vou saber se eu nunca fui na Terra?

Entendeu?

Fim.

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 06/06/2019
Reeditado em 06/06/2019
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