Miss Fila

Lembrou de um romance de Roberto Drummond (que virou seriado da Globo), "Hilda Furacão". Ele conta a história de uma moça da alta classe média mineira que por opção virou prostituta de luxo. Respeitava as opções da pessoas, inclusive essa da personagem do romance e ainda mais quando essa escolha se dava não devido a ação das traças do destino, circunstâncias adversas, única alternativa de sobrevivência.

Na sua terra, lembrou, numa certa época, havia uma mulher lindíssima que exercia essa profissão. Mas não na zona, no chamado baixo meretrício, no cabaré ou nos famosos "castelos", mas na sua própria casa. Ela recebia os clientes em casa. Era uma dama, séria, muito educada, elegante, sóbria, bem vestida sem exagero. Quando ela passava na rua todos admiravam o seu porte, elegância, distinção. Só as comadres maldosas pichavam essa mulher. Um sujeito muito espirituoso dizia que era po inveja. Essas comadres maldosas botaram um apelido cruel na mulher: Miss Fila.Isso devido ao grande número de clientes que ela recebia diariamente. Era realmente impressionante. Só recebia os abonados do lugar, os que podiam agar. Nunca essa mulher se enrabichou por ninguém. Os adolescentes que apenas sonhavam com ela achavam-na uma rainha.

Quando ela deixou a cidade ninguém teve mais notícias dela, devia ter se mudado para bem distante onde sem dúvida constituiu família e se tornou, quem sabe, uma locomotiva da sociedade, livrando-se da profissão e do apelido cruel.

Ainda recordando o assunto, o homem lembrou de uma época em que uma professora do colégio das freiras, que era considerada muito avançada, resolveu fazer uma espécie de pesquisa de campo para, riu divertido, descobrir por que algumas mulheres optavam pela prostituição. Criou um grupo dentre as alunos do terceiro ano pedagógico e munidas de pranchetas, lápis e questionários numa bela manhã se dirigiram à zona. Começaram a entrevistar as mulheres. Uma dizia que fora enganada pelo namorado, outra que caíra no golpe quera só a "cabecinha", outra que o noivo apressou a noite de nupcias e depois se arrependeu e deixou ela grávida, os pais a expulsaram de casa e só lhe restou o cabaré... Por último restou uma morena que era bem debochada e muito sincera, além de gozadora nata. Quando uma das moças lhe fez a pergunta básica, ou seja, por que ela escolhera aquela profissão, ela riu e mandou ver,não se dirigindo aó a mocinha, mas também à professora e todas as outras:

"Pois eu, minhas filhas. caí nesta vida porque gosto de ser puta, adoro esta profissão, quem come num prato só é tuberculoso. VOcês não sabem o que estão perdendo.

A equipe saiu quase correndo da zona. Nunca mais tocaram no assunto. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 12/06/2019
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