SER SÓ

Desde que o mundo é mundo as coisas sempre são réus e caça abatida da filosofia pouco indulgente dos ignorantes... Mesmo que pense que saiba sabe que não sabe e continua achando que sabe... Absorta nessa infame elucubração pensara que gente no mundo é um mais um na multidão.

“Ou seriam todos sem nenhuma?”

Continuou então fazendo contas, somando e subtraindo: “Um mais um sendo multidão, todos ou nenhum, menos um ou apenas um só...”

E questionou a significação do só: Pouco ou sozinho, eis a questão; Só em solidão ou solitude? Maioria ou minoria? Verdadeiramente sua cabeça começava a efervecer com tão ampla e incessante busca pela compreensão dessa questão íntimamente ligada à vida humana. Todavia não se apercebia incompetente para apreender tal questão em sua inteireza.

Seguia seu andar um cão a ladrar, mas nisso não se incomodava. O desconforto maior vinha dos sapatos inadequados para o mal-conservado pavimento das calçadas daquele vilarejo.

“Tanto minério saindo dessas terras, exportados que são, pra depois voltarem a preço de ouro em manufaturas de qualidade suspeitas...” Revoltava-se em pensamento diante do mau uso do dinheiro público. E novamente torcia o pé num buraco do chão, mas não a ponto de machucar seriamente. “Se vergonha matasse estaria morto e enterrado de tanto que já virei meu pé nesse lugar... Eu vou embora!”

E, apressadamente, dirigindo-se para a rodoviária, concluiu sobre seus pensamentos iniciais: “Fato é ser muitas vezes “apenas um” ou “apenas uma” quando melhor sempre é um só que mais que um e sorriu vitorioso em suas reflexões certificando-se de que “antes só do que mal acompanhado”.