Os Dois Piratas

Os dois velhos capitães se encaram em meio ao convés. Por mais que a seu redor se desencadeasse uma feroz batalha entre suas tripulações, nenhum deles a escutava ou sequer percebia, pois eles tinham toda sua atenção voltada somente um ao outro.

Roger ainda tinha uma pistola carregada, e sabia que poderia decidir o duelo rapidamente com um tiro, mas isso seria desleal, pois Marshall portava apenas suas espadas. Marshall, por sua vez, deslizou um de seus sabres de volta a bainha, já que Roger empunhava apenas um.

Nenhum dos dois queria sair vitorioso estando em vantagem, não. Se Roger atirasse, diriam que venceu apenas porque Marshall estava sem uma pistola, da mesma forma que se ele empunhasse os dois sabres durante o combate, diriam que sua vitória se devia ao fato de que Roger empunhava apenas um.

Então, de igual para igual e com as espadas em riste, os dois se estudaram por longos momentos. Ambos estavam decididos a pôr um fim aquela antiga rivalidade, ao mesmo tempo que nenhum deles pretendia a ser aquele a ser sepultado no baú de Davy Jones.

Eles então aguardaram. Fosse por uma brecha, um hesitar, uma demonstração de fraqueza... Mas nenhum deles demonstrou qualquer uma dessas coisas, nenhum deles seria digno da rivalidade do outro se o fizesse, e o que finalmente encerrou a trégua foi um tiro de canhão, que a ambos serviu como sinal de ataque.

Eles se lançaram ferozmente um contra o outro, mas, antes que suas espadas pudessem se chocar, uma voz mais alta que os gritos de batalha e o som dos disparos das garruchas parou os velhos rivais em pleno combate. “Venham jantas, está na mesa!”. Assim se deu fim a rivalidade de Marshall e Roger, esquecida em meio a sobremesa.