As crônicas de Julieu Raulseixista Parte I.

Parte I

Essa é a história de um personagem épico de nossa sociedade contemporânea e se passou há muito, muito tempo atrás em uma pequena província de um país subdesenvolvido da América do Sul chamado Brasil.

Quem chegou a conhecer Julieu sempre o teve como homem muito astuto, que sabia usar as palavras no momento exato em que elas precisavam ser usadas. Ele era um homem letrado na vida, sempre tinha uma boa estória, um bom causo para contar em todas as situações. As suas piadas eram as melhores. Quando Julieu as contava não tinha uma viva alma que pudesse permanecer de cara feia, realmente ele tinha o dom de fazer as pessoas rirem. Julieu servia mesmo como inspiração de vida para todos aqueles que os rodeavam. Mas nem sempre foi assim.

Já dizia o velho ditado “se queremos conhecer um homem precisamos compreender bem a sua história”. De fato podemos dizer que Julieu é um legítimo fruto de sua história.

Julieu nascera em 24 de Julho de 1956 em uma pequena cidade do Sudoeste do Paraná chamada Catando Uvas. De fato, o nome da cidade é fruto da vasta produção da fruta que era produzida pelos fruticultores nesta cidade. O nome desta cidade se confunde com a vida de próprio Julieu. Fruto do amor passageiro entre dois amantes colhedores de uva, Julieu foi fabricado ali mesmo, a sombra de um parreiral, no intervalo do almoço. O pai de sangue era um errante na vida, andava aqui e acolá, acabando a colheita desembestou-se novamente no mundo para nunca mais voltar. Saiu sem saber que deixara na barriga de seu amor passageiro, Adalgisa, o famigerado Julieu, inspiração de muitos homens contemporâneos.

Já a mãe era moça séria, filha de sitiante bem situado e afamado na região. Seu Rômulo Ronaldo era um homem tradicionalmente tradicionalista, Campesino, agricultor e campeiro, vindo das fronteiras do Rio Grande do Sul, foi um dos colonizadores que colonizaram Catando Uvas. Como vocação, evidentemente tinha a agricultura e o cultivo de uvas, seu sonho sempre foi povoar Catando Uvas com as mais frondosas parreiras de uvas já existentes.

Além da produção de uvas, Catando Uvas também era afamada na produção de vinhos. Daquele local saiam os melhores vinhos, as melhores safras. Seu Rômulo Ronaldo, como homem muito sério, afamado e tradicionalista, era um exímio apreciador da bebida, sendo que seguia a risca o ditado: “nunca acredite em alguém que não bebe”. Tradicionalista por vocação R. Ronaldo Soares era um exemplo ético e moral para a cidade. Contador nato de causos, contos e lendas, de tudo que aconteceu e irá acontecer desde o princípio do mundo. Fazia previsões, dava conselhos, tirava mal olhado. R. R. Era mesmo um homem inspirador.

Como diz o velho ditado: “atrás de um grande homem sempre vive uma grande mulher”. E assim se fez. Seu R.R, como não podia deixar de ser, e assim sendo, era casado na Igreja e no cartório com uma senhora muito afável amada e angelical. Seu nome era Joaquina Enrieta Soares. Dona Joaquina nunca apreciou o modo como soava seu sobrenome Enrieta e sempre detestou ser chamada de Joaquina. Por fim, para agradar-lhe, o seu amado marido senhor Rômulo acostumou-se em chamá-la de Jô.

O Senhor R. R. Soares e a senhora Jô Soares tinham Adalgisa como filha única e somente ela. Por mais que tivessem tentado o intento na fabricação de outros filhos Deus havia lhes permitido somente Adalgisa.

O sonho do senhor R.R Soares foi sempre o de ter um menino, para ser um homem forte, trabalhador e honesto. Porém, as suas suplicas ao senhor nunca puderam ser atendidas. Para aumentar sua tristeza ficara sabendo do pranto que se abatera sobre Adalgisa e da desgraça perante Deus e a sociedade de ver sua filha se tornar uma mãe solteira na plena calada de sua esmerada juventude.

Adalgilsa, que era moça virgem e prendada, tinha recém completado 13 anos, na pureza da adolescência pensava ter encontrado o seu amor verdadeiro. Mal sabia ela, a tristeza tão profunda que sob ela se abateria. Seu Rômulo ficou furioso quando soube do feito acontecido, queria fazer justiça com as próprias mãos, cortar logo os bago do filho de um égua, como poderia ele, situante bem situado tendo uma filha largada na vida, mãe solteira? Que vergonha mais desavergonhada poderia se abater sobre aquela família? O que o povo iria dizer e pensar?

A pobre da Adagilsa não sabia onde esconder o rosto, perdera toda a confiança de sua família e ainda carregava no bucho um filho que tinha um destino insólito. A vida as vezes é mesmo muito injusta. Seu Rômulo Soares, homem respeitado, na rua e no rincão com uma filha rechaçada. Era triste demais. Dona Jô nem se fale, foi uma semana em pranto, seu choro era tanto que no fim da semana nem lagrima tinha mais, mas como tudo na vida passa, os dias foram passando e a barriga de Adalgisa foi crescendo. Com o passar dos tempos a raiva de seu Rômulo se transformará em esperança de que naquele ventre poderia estar o filho que ele nunca tivera.

Seu Rômulo era um homem de meia idade, casou tarde, passando dos trinta, sempre trabalhou no campo, fiel ao seu pai. Seu pai viera do sul depois da revolução de 32 para colonizar a região de Catando Uvas, prosperou durante um tempo, mas perdeu tudo o que tinha com jogo e mulheres. Perdeu até sua esposa para um rico fazendeiro plantador de hortelã e uvas levando o velho Soares há uma tristeza profunda. Sem outra alternativa, O velho Soares se internou na pinga, velho e cansado desfaleceu com os fígados todos inchados.

Finalmente seu Rômulo resolveu acolher o seu destino e se pôs a pensar sozinho e consigo mesmo que criaria a criança como se fosse sua, lhe daria o do bom e do melhor e lhe ensinaria os princípios fundamentais para que qualquer indivíduo possa se tornar um bom cidadão. E assim foi feito.

Para a felicidade de seu Rômulo nascera um menino do “saco roxo” forte que nem um bezerro. A alegria era tanta que seu Rômulo não podia se conter era um sonho sendo realizado, era o filho homem que ele nunca tivera, a vida tinha sentido novamente.

Adalgisa, agora desvirginada não conseguia tirar a culpa do ato pecaminoso que tinha feito. A culpa era uma mácula dentro do seu peito que a castigava diariamente. Mesmo sabendo do amor de seu pai e de sua mãe pelo filho que outrora tivera não conseguira aceitar o destino insólito que o senhor lhe reservara. Até que um dia, sem dizer adeus fugiu de casa para nunca mais voltar, deixou uma carta de despedida falando do seu amor da sua dor em ter que partir. Nunca mais foi vista. Não se viu nem se ouviu falar de Adalgisa. O pequenino Julieu ficara então sob os cuidados do avô, que lhe criou como um filho e que ele tratava com pai. Julieu foi crescendo e se desenvolvendo era arteiro e criativo e falava do mundo inteiro. Ninguém poderia suspeitar o que viria pela frente, a vida de Julieu seria totalmente diferente.