A OPORTUNIDADE

Osmario Feitosa Abreu, tinha um comércio na Rua Flores do bem querer, esquina com a rosa da plenitude alí no jardim corcovado, uma pequena vila cheia de barracos que acumulavam corpos rejeitados pela sociedade ou por aquelas pessoas mais abastada de Serra Verde.

José Otaviano Feitosa, um garoto de nove pra 10 anos, era conhecido da vila, pela alcunha de Zezinho;O Pai, ninguém sabe quem é.

A mãe, (Quitéria Soledade de Albuquerque Feitosa) para sustentar ele e os dois irmãos, por vezes, negociava seu corpo em troca de uns trocados para adquirir o alimento diário que por vezes não era de costume ter a mesa. Que mesa, se poucas coisas lhe restavam como mobília no barraco?

Zezinho sempre pela rua passava o dia sem se importar em ir pra escola. Até foi, mas desistiu e a mãe não o impulsionou a estudar, pois ele vez por outra carregava compra das pessoas na feira e ganhava algumas moedas ou trazia alguns restos de coisas que ele juntava para levar para casa. Oba, a sopa hoje está garantida, dizia sorrindo para sua mãe que não conseguia segurar um filete de lágrima que lhe caia dos olhos.

Sempre que podia, passava na venda de Seu Osmário e pedia: Seu Osmário me dê 20 centavos pra inteirar a compra de um pão. E o bigodudo enfezado sempre o repelia dizendo: Vai procurar o que fazer muleque, vai procurar teu pai nalguma cadeia por ai. Cabisbaixo Zezinho saia dali, enxotado feito cachorro magro, e precisado de algumas moedas que nunca vieram por parte do comerciante, que nem uma oportunidade dava para que o menino aprumasse o seu caminho direcionado ao bom comportamento da responsabilidade.

Seu Osmário me dê 0,50 centavos ou me dê um ovo pra eu levar pra casa! Vai-te embora daqui vagabundinho, cara de trombadinha. Seu Osmário nunca lhe dissera uma palavra sequer de incentivo e sempre o humilhavam, talvez por ser pobre, negro, filho sem pai e por ter uma mãe prostituta, (Pois era assim que ele dizia ao menino) essas coisas que caracterizam a miséria, que quando vem, arrasta um monte de varias coisas que não prestam para valorizar ainda mais o sofrer de um necessitado de tudo.

12 15 17 anos, Zezinho cresceu, mas nunca se esqueceu das palavras humilhantes que sempre ouvira do comerciante (Explorador dos pobres). Era assim que Zezinho o chamava e agora, lembrando-se dos pequenos valores que sempre pedia e nunca tivera a resposta positiva desejada. ( me dê um real, me dê dois reais) e assim Zezinho chegou ao 18 anos.

Era tardezinha, e o sol já queria beijar o horizonte e se recolher para descansar sob a brisa da noite, e admirar o poder da lua que lhe tomaria o lugar para cuidar da terra em todo planeta. O Comerciante já se preparava para fechar o estabelecimento, quando uma voz se faz ouvir: PASSA TODA GRANA SEU OSMÁRIO, hoje eu não quero alguns centavos e nem alguns reais, eu quero tudo que o Senhor tem ai. Aponta-lhe um revolver cano prateado de onde pode ser visto o tambor acusando que a arma estava recheada de chumbo.

Ele olha o rapaz e tremulando a voz diz: Zezinho, não faça isso meu filho. Ao ouvir a palavra filho Zezinho dá-lhe um soco na cara que o velho cai arrastando algumas mercadorias da prateleira. O Dinheiro seu velho imundo, e não me chame de filho seu traste, cadê o dinheiro seu nojento? Osmario se levanta mete a mão embaixo do balcão (Sob a mira do revolver empunhado por Zezinho) e lhe entrega uma pacote de dinheiro que era a féria de uns dois dias.

Zezinho olha pra ele e diz: Tudo podia ter sido diferente, bastava o Senhor ter me ajudado não me humilhado como sempre fez, a mim e a minha mãe. Eu lhe pedia não eram em si as moedas, mas um pouco de carinho de atenção e respeito, e agora o Senhor vai morrer pra deixar de ser tão miserável. Mira e atira, sem ter dado a chance de o seu Osmario dizer uma só palavra.

O tiro é ouvido pela vizinhança, que ao se aproximar do local, entendem o que tinha acontecido por ali. A mãe de Zezinho chega e lhe diz: Va embora meu filho. Mas um vizinho (Seu Agenor do Pick-up azul) chega e dia, é melhor todos vocês irem embora, eu os levo para algum, outro lugar vou pegar a caminhonete. Não seu Agenor, Diz Zezinho. Eu vou embora, mamãe fica até eu vir busca-la.

Uma sirene (Dedurada por algum dos vizinhos) chega ao local, faz as perguntas de praxe, sem muita vontade de esclarecer nada, recolhe o corpo no rabecão e leva para o IML enquanto que os moradores saqueiam tudo que podem do comercio, como se uma condenação coletiva, tomasse conta de todos.

Seu Osmário não tinha parente, e fora enterrado no cemitério local, sem coroa de flores, sem reza, e sem discurso. Zezinho, nunca mais apareceu.

CARLOS SILVA POETA CANTADOR
Enviado por CARLOS SILVA POETA CANTADOR em 01/08/2019
Reeditado em 02/08/2019
Código do texto: T6709793
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.