Meio-dia

Sob o sol escaldante do meio-dia, a poeira cobre os rastros indecisos da família que caminha sem rumo, levando consigo a falta de comida, pois nem as esmolas das "bolsas" da vida chegam até eles, nem a água para saciar a sede... A água do "Velho Chico" que não chega. A ganância de alguns mata a esperança e a realidade de milhares de zés, marias, joaquins, sebastiões...

O mormaço, a brisa de fogo, a jornada sem retorno, um caminhar em círculos até onde? Ao deus-dará a família sofre, sem ter onde descansar, assim como Maria e José nas proximidades da manjedoura. Como o nordestino sofre com a perda da terra, com a humilhação diante de fazendeiros capitalistas que veem as pessoas como objetos que podem ser comprados, escravizados e usados como burros de carga. Existem milhões de brasis disfarçados de um Brasil supostamente em desenvolvimento, até quando?

Até quando o povo será enganado? Quando a máscara cairá e cada indivíduo poderá ver a realidade nua e crua como ela é? As imagens se misturam com a poeira do caminho. Pai, mãe e filhos desabam em lágrimas. O último fio de esperança se esvai. Roncos que não são de trovão, olhos famintos, paisagem escaldante, um chão impiedoso que os acolhe no último suspiro. Do barro à vida; da vida ao barro. "O que os olhos não veem, o coração sente".

27.09.2007

André Filho Guarabira
Enviado por André Filho Guarabira em 28/09/2007
Reeditado em 29/03/2024
Código do texto: T671660
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