Andando lento nas ruas

Envelhecera, estava andando com passos lentos, já não podia, devido aos achaques e limitações da idade, participar de algumas boas coisas da vida. Era como uma ilha cercada de proibições por todos os lados. Mas apesar disso ainda acalentava sonhos e os sentimentos eram s mesmos. Era pretensioso, achava que envelhecera como os bons vinhos envelhecem, ornando-se melhores, sem azedar, sem virar vinagre. Resumindo: achava que envelhecera mas não envilecera. E tinha consciência de todas as suas faltas, erros, omissões e, of course, pecados cabeludos. Era impossível negá-los, seria negar a sua história . Entendia que o homem era ele e toda a sua história de vida, inclusive a história de suas faltas.

Continuava com as mesmas deias. Nunca virara a casaca.Mas, por outro lado, sabia que nunca fora uma marionete, nunca se sujeitou a decisões da maioria quando discordou dela. Na verdade sempre foi e continuava sendo um empata samba, um dissidente crônico.

Andava meio trôpego, pisando nas filhas caídas das árvores, ria dos que levavam a vida muito a sério, dos metidos a perfeitos, a bambambã, a celebridades em compotas. Ria paca das babaquices e do frenesi pela moda, da inversão dos valores, do modismo imbecil. De repente lembrou o que disse Eduardo Galeano:

"Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais que o corpo e a missa mais do que Deus".

Retornando para casa a passos lentos sentia satisfação pela idade não tê-lo feito um odiento e nem um violento. Pisando nas folhas caídas lembrou o samba cantado pela saudosa Beth Carvalho, iria ouvi-lo em casa, mas também La vie em rose. Ah vida, como é bela. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 05/09/2019
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