Do sonho à realidade

Adalgamir não tinha mais aquela determinação em ter um carro 0km, pois já não seria o primeiro; e verdade seja dita, não tinha a menor intenção de comprar um novo carro. Portanto, não deu muita atenção quando Sigismundo, o vendedor de consórcios de automóveis, veio visitar seu amigo no escritório para vender um.
Porém ao saber que Aldegundo, seu amigo, não fizera negócio e tendo sido ele o responsável pelo vendedor ter ido visitá-los, Adalgamir resolveu fazer parte daquele novo grupo de consorciados que se iniciaria.
Para surpresa de ambos foi logo sorteado no primeiro sorteio.
Visitou a agência da concessionária e lá escolheu o melhor carro do momento. Como gostava de viajar, aproveitou e mandou que fosse instalado um bagageiro.
Chegando no condomínio a vizinhança não pôde deixar de notar aquele carro vermelho.
A família ficou encantada com a aquisição, mas Adalgamir não conseguia entrar naquele clima de alegria que contagiara a todos.
Tinha a sensação de que algo não muito bom iria acontecer - e aconteceu. Em menos de uma semana estava parado no sinal quando Dona Gravitolina, uma senhora desatenta ao volante, entrou na traseira do seu carro. Discussões à parte, o veículo foi consertado.
Não demorou muito e teve a notícia de que o plano de consórcios havia mudado, e o seu também. Passara de 50 prestações para 75 sem nenhum aviso ou consulta. Adalgamir decidiu que não pagaria uma prestação a mais. Decidiria na Justiça tal arbitrariedade.
Pois bem, aquela sensação de que não deveria ter comprado o carro aumentava a cada dia, a ponto de até sonhar. Foi num desses sonhos que se viu parando num estacionamento quando, ao retornar para pegar o carro, só encontrou o bagageiro suspenso por quatro canos no local.
Acordou assustado e comentou com a Audicréia, sua esposa. Mas a mesma enfatizou que tudo aquilo não passava de um sonho.
Adalgamir teve as suas dúvidas.
Passado os 50 meses, parou de pagar o consórcio e o caso foi parar na Justiça.
Seu amigo, o advogado Furdêncio garantia sempre que a causa seria ganha. Entretanto, num belo dia, bem cedo, um oficial de justiça o acordou e levou seu automóvel, só deixando o bagageiro apoiado no muro da garagem, igualzinho ao sonho que teve.
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 26/10/2019
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