"O homem que ensinava javanês"

Divagando na sua cadeira de balanço, o coroa enfadado e cansado de guerra, dava uma pausa nas suas lamentações sobre os achaques da idade e a sua alergia crônica. Pensava no quanto a cultura brasileira era injusta. Louvava uns e esquecia outros, todos do mesmo nível. Era o caso de Lima Barreto, um dos maiores escritores do Brasil em todos os tempos, autor de obras-primas como "Triste Fim de Policarpo Quaresma", "Morte e vida de M.J. Gonzaga de Sá", "Clara dos Anjos", "Recordações do escreviãi Isaías Caminha", "Os Bruzundangas" e outros. Um escritor, dizia aos seus botões, que escreveu tão bem quanto Machado de Assis, mas diferente deste, era u crítico da sociedade e dos poderosos, antissocial, avesso à roda do poder.

Com a televisão ligada, mas sem som. enquanto divagava sobre o escritor, ele via um ministro do STF saracoteando e fazendo cabriolas, enfeitando o maracá e sem dúvida falando difícil, lendo um camalhaço durante horas quando poderia em dez ou quinze minutas dar o seu voto, e priu. Foi vendo aquele ministro chato e arrogante e amostrado que lembrou um conto de Lima Barreto: "!O himem que ensinava javanês". Sim, o ministro era o Castelo do conto do escritor. Estava ensinando javanês aos seus colegas. Ah, Brasil. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 27/11/2019
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