O Cortejo

Mãos taciturnas agarraram tristemente a alça do caixão. O dia fez-se também triste, sombrio, obstinado e amargo como jamais se fizera. A vida sentia nos ombros o peso da morte, fortemente entrincheirada no íntimo do coração. Não se sabe o por quê; mas o sol repentinamente escureceu, deixando no ar somente o barulho do pranto familiar. O defunto apenas fazia-se silencioso, como era seu costume habitual, sendo levado nos ombros dos velhos amigos.

Saiu o cortejo pelas ruas da cidade; as mulheres cantavam ave-marias, enquanto os homens contavam piadas ao longo do caminho. O morto recolhia-se à sua insignificância; apenas dormia, como era costume habitual fazer ao som das ave-marias.

Maurício de Novais Reis
Enviado por Maurício de Novais Reis em 06/10/2007
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