Necrologia da esperança

Obituário I

João da Silva de Jesus, aos 42 anos, era filho de Maria da Silva. Não deixa filhos. O enterro foi realizado no Cemitério da Saudade.

Morreu de morte morrida o falecido defunto. Não era velho nem novo, apesar de sabermos que a morte prefere os mais velhos. Pena! Se fosse novo, o defunto, causaria certa comoção. Ele deixa entes não tão queridos ao que se saiba, mas diz o costume que o amam muito. Os pais já não se encontram entre nós, o que afasta aquele amor que não é difícil, o amor dos pais pelos seus filhos. Tentou por diversas vezes perpetuar sua miséria no mundo, mas sem sucesso ao menos que se saiba. Sua profissão, autônomo, o que quer dizer que vivia de bicos, mas de fato sua importância estava em ter o terceiro grau. Era administrador. A causa da morte também não se sabe com exatidão. O corpo em avançado estágio de decomposição fora encontrado por vizinhos e pelas autoridades. Estava em frente a TV, ainda ligada, sua mais fiel confidente nos tempos de vida. Assim os resultados da necropsia demoraram alguns dias e o corpo pede rápido sepultamento. O enterro será no cemitério da Saudade aos cuidados de um sobrinho distante para que não se vá como um indigente. Se alguém o conhecesse a fundo saberia que um de seus desejos em vida era o de ser cremado.

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Missa de sétimo dia

Como o defunto não professava nenhuma fé, não haverá missa, portanto, não se faz necessário este texto.