Conto das terças-feiras – Adolescente apaixonado

Gilberto Carvalho Pereira – Fortaleza, CE, 21 de abril de 2020

Luiz era um adolescente muito curioso para o lado das questões sexuais. Seus pais, católicos fervorosos, nunca tocaram nesse assunto. Nem percebiam que o filho único estava crescendo e que dentro dele cresciam vontades inconfessáveis. Tímido, tinha receio em tocar nesse assunto, seja com o pai e muito menos com a mãe. A incerteza, acompanhada de medo em relação à reação dos dois, o levava a se reservar.

Certo dia a família de sua amiga, Laura, pouco mais nova que ele, mudou-se para outra cidade. Era a sua paixão platônica, embora mantivesse raros contatos com a garota. Uma ou outra vez se tocaram, todas as vezes o garoto sentia certo frenesi nesses momentos. Laura, mais atenta percebia, esperava alguma reação, mas a timidez de Luiz a impedia de tomar uma atitude mais ousada.

Passados alguns dias, outra família veio ocupar a casa deixada por Laura. Curioso, ficou espionando o descer da mudança dos novos vizinhos. Percebeu a presença de um homem, que ele deduziu ser o chefe da família, uma bela mulher e uma criança de colo. O homem vestido de farda verde, indicava ser do Exército, só não identificou a patente. A mulher percebeu Luiz olhando com insistência para ela. A esse olhar, respondeu com um leve sorriso, deixando o garoto encabulado.

Era mês de férias e o menino passava todo o dia em casa. Lia gibis, desenhava e só. Sendo sua casa conjugada a da vizinha, algumas vezes observava sorrateiramente os movimentos da mulher do soldado pelo muro que dividia os dois quintais. A mulher, que ficou sabendo chamar-se Larissa, em uma cadeira de balanço amamentava o filho sem preocupação, achava que ninguém a veria naquele ato, até o dia em que percebeu o mesmo olhar insistente a lhe fitar, quando entrara pela primeira vez naquela casa.

A moça não se abalou, se recompôs, olhou para Luiz, sorriu e pediu para ele pular o muro. De pronto ele atendeu, de nervoso quase se ferindo. Ela o chamou para mais perto, limpou os joelhos do garoto, que machucara quando pulara. Sem jeito, afastou-se e prosseguiu se limpando. Larissa levantou-se da cadeira e, com a criança no colo, se dirigiu para dentro de casa.

— Entre, como é seu nome?

— Luiz, responde balbuciando.

— Entre, não tenha medo, só estamos nós três aqui, eu, você e a criança. Meu marido está viajando e estou me sentindo sozinha. Vamos conversar.

Ao se dirigirem para dentro da casa, ele percebeu que ela estava só de baby doll. Pernas longas e bonitas, pensou ele. O garoto tremia que só vara verde. Ela ria, parecia brincar com a timidez do dele. Ao chegarem ao quarto do bebê, a criança que já dormia, foi colocada no berço. Luiz observava todos os movimentos da bela mulher. Era delicada, já àquela hora de unhas pintadas, cabelos bem penteados, batom, parecia que estava pronta para sair ou esperava alguém, ele nunca havia olhado para uma mulher daquele jeito. Ele arriscou uma pergunta:

— A senhora vai sair?

— Não me chame de senhora, falou com delicadeza. Não vou sair, fico em casa todos os dias assim, completou a mulher.

Luiz baixou a cabeça, achando que a pergunta tinha desconcertado Larissa. Afastou-se um pouco e falou:

— Já vou, minha mãe deve estar procurando por mim.

— Você disse que ela não se preocupa com você, que só o chama na hora do almoço. Ainda é cedo. Venha, vamos para a sala, lá a gente vai ficar mais à vontade.

Chegando à sala pediu que ele se sentasse no sofá, o garoto obedeceu e ela se sentou logo em seguida, junto a ele.

— Pare de tremer, você está com medo de mim? Eu não mordo.

— Não é isso, eu nunca estive perto de uma mulher tão linda e nesses trajes.

Daí em diante Luiz ficou sabendo de tudo sobre o que tinha vontade de saber. Os dias seguintes foram maravilhosos para ele, seus pais nem perceberam sua transformação. O menino tornou-se homem, já estava com 16 anos, o marido de sua amante estava em missão em outro país e só voltou seis meses depois. Mesmo assim, Luiz continuava deslumbrado e feliz com a vida que levava, era só o soldado, como ele chamava o marido de Larissa, sair, ele pulava o muro. Aprendera rapidamente e não se machucava mais.

Até quando isso durou eu não sei, também me mudei de casa.

Gilberto Carvalho Pereira
Enviado por Gilberto Carvalho Pereira em 21/04/2020
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